Ano de balanços gordos

A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 7% no ano engorda os balanços das empresas dedicadas ao mercado interno e reforça a projeção de 2010 ser de resultados recordes. Os balanços trimestrais já divulgados por companhias de capital aberto mostram que o otimismo, apesar de abranger vários setores, não se repete em corporações dependentes da recuperação global – ainda tímida – e do câmbio.

Enquanto setores como varejo, construção civil e bancário aproveitam o crescimento da renda, a queda do desemprego, o aumento da oferta de crédito e a confiança do consumidor em alta, segmentos como a siderurgia não conseguem aproveitar o bom momento nacional. Apesar da alta demanda por aço no Brasil, o dólar e a grande oferta mundial do produto pela retomada frágil da atividade nos países desenvolvidos favorecem a importação e pressionam os preços.

O cenário, explica o gerente-geral e sócio da XP Investimentos, Rafael Quintana, também se reflete na diferença de valorização dos papéis das empresas na BM&F Bovespa. – Enquanto as ações do setor de consumo subiram em média 30% (no ano), as de siderurgia caíram 20% – exemplifica Quintana. O horizonte incerto se estende ao setor de alimentos, principalmente no caso de companhias voltadas à exportação. O problema, além do câmbio e da demanda fraca, está nos custos. – O boi está caro e a soja e o milho, que são importantes para os custos, subiram – lembra o diretor de análise da corretora Solidus, Matias Dieterich. A exceção entre as exportadoras é a Vale. A despeito do dólar, a empresa reportou no último trimestre lucro recorde de R$ 10,6 bilhões. O segredo é o apetite chinês por minério de ferro. Rafael Weber, analista de mineração do Banco Geração Futuro, projeta para o fim do ano mais uma marca recorde no lucro da Vale, de R$ 27 bilhões.