Mudança de postura: consumidores planejam compras e buscam crédito consciente
Acesso a crédito, prazos alongados e uma infinidade de itens de consumo. Pensar que o crescimento das possibilidades na aquisição de bens e de serviços fez com que o brasileiro perdesse o controle na hora…
Acesso a crédito, prazos alongados e uma infinidade de itens de consumo. Pensar que o crescimento das possibilidades na aquisição de bens e de serviços fez com que o brasileiro perdesse o controle na hora das compras é um erro. Anos de estabilidade monetária, relação transparente entre lojistas e clientes e ainda constantes aparições do tema juros na mídia começam a surtir um efeito interessante na população: a busca pelo crédito consciente. Uma pesquisa realizada pela Itaucard intitulada “Consumo consciente no mercado de cartões de crédito” mostra que, enquanto o consumo no varejo cresceu 20,5% entre junho de 2006 e junho de 2008, no mesmo período, a taxa de inadimplência de 15 a 90 dias sobre o saldo total de crédito nos cartões caiu três pontos percentuais, passando de 7,6% para 4,6%.
O economista da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do RS (Fecomércio-RS), Eduardo Merlin, conta que este indicador reflete claramente que o brasileiro tem a preocupação de manter seu nome limpo – para poder obter novo crédito –, bem como a estabilidade de 14 anos conquistada pelo real possibilitou o planejamento das compras. “Antigamente era inviável fazer compras parceladas, pois o produto era pago nas duas primeiras parcelas e os outros meses eram fictícios, pois a inflação era enorme. Na situação atual, a população começa a ter um entendimento cada vez maior sobre a importância do consumo consciente, pois querem adquirir outros itens também usando de crédito”, explica Merlin.
Outro ponto importante destacado pelo economista é a postura do varejo, que percebeu que a saúde financeira dos clientes é fundamental para o futuro do seu negócio. Merlin acredita que as lojas sabem que não adianta vender tudo em um único dia, pois é imprescindível pensar nos meses que seguem. “O consumidor realiza suas aquisições pensando em um orçamento dos três próximos meses, já o lojista pensa em seis meses. Essa relação, cada vez mais clara entre empresas e consumidores, tem trazido efeitos benéficos para todos, pois tanto o empresário quanto os clientes querem manter um canal aberto para novas compras”, admite Merlin.
E essa nova conjuntura, em que a oferta de crédito aumenta, mas o planejamento das compras acompanha tal demanda, fez ainda com que novos consumidores passassem a querer itens que até pouco tempo atrás não fariam parte da sua cesta. O comentário do economista da Fecomércio-RS é de que este consumidor, por sua renda, pertence a uma classe baixa, entretanto, pelo acesso a bens que possui pode ser visto como classe média. “E essa busca, principalmente por bens duráveis, cria um círculo virtuoso para toda a sociedade. A massificação do consumo faz com que os preços baixem e, por sua vez, o interesse dessa compra aumenta a possibilidade de crédito”, diz Merlin.