A hora certa de buscar uma vaga

por Luciane Costa

O ano é favorável para quem procura novas oportunidades no mercado de trabalho. A economia continua aquecida, seguindo os bons resultados de 2009, com aumento do número de posições abertas e diminuição das taxas de desemprego. Em agosto, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criados 299 mil empregos com carteira assinada, número 23,7% superior ao mesmo mês do ano anterior. Até então, já foram criados 1,95 milhão de empregos em 2010, número recorde desde o início da mensuração, em 1991.

O Brasil tem hoje sua menor taxa de desocupação desde 2002, ficando em agosto em 6,7%, com queda de 1,4 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2009, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Região Metropolitana de Porto Alegre apresentou 4,6% no índice de desocupação, melhor resultado entre as pesquisadas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo), com queda de 0,8 ponto percentual. O número de trabalhadores com carteira assinada também cresceu a 7,2% no ano, representando 685 mil novos postos formais de empregos.

Áreas como construção civil, recursos humanos, tecnologia da informação (TI) e varejo são as que têm apresentado quantidade significativa de novas posições continuamente, recuperando o fôlego após a crise, segundo Thaís Lichouteiro, consultora da Produtive Outplacement e planejamento de carreira.

Em TI, por exemplo, parcerias entre multinacionais e empresas gaúchas para projetos específicos e de grande porte têm determinado contratações de vários profissionais ao mesmo tempo. A área financeira também ganhou força após a turbulência econômica, quando os profissionais entraram em evidência e se mostrou necessário maior preparo para ocupar as vagas, principalmente no que diz respeito ao comportamento durante momentos críticos nos negócios.

As novas posições têm sido distribuídas ao longo do ano para os empregos efetivos. A diretora de eventos científicos da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Rosane Kramer ressalta que cada segmento econômico possui seu período para admissões, mas em geral ele dura de março até início de dezembro, devido às férias de verão.

A contratação de executivos, porém, tem se mantido, inclusive nos meses de menor movimentação econômica. Isso porque, quando o ano realmente começa para os negócios, em março, eles devem estar estabilizados em suas funções para coordenar pessoas e projetos. “É uma modificação significativa em relação há uma década, por exemplo. As posições a nível estratégico agora continuam aparecendo em janeiro e fevereiro”, afirma Rosane.

O último trimestre, entretanto, promete concentrar um número ainda maior de oportunidades, devido às festas de final de ano e ao planejamento estratégico das companhias, com definição de metas e formação das equipes que serão responsáveis pelos resultados corporativos no ano seguinte. Neste período, os departamentos de recursos humanos atuam estrategicamente junto à diretoria, definindo quais são os perfis a serem selecionados, utilizando como base os objetivos estratégicos da empresa para 2011.
Final de ano garante contratações no comércio

As vagas temporárias de final de ano, que começam a ser preenchidas durante o mês de setembro, podem chegar este ano a 139 mil em todo o Brasil, número 11% superior a 2009, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem). O aumento da renda familiar e a estabilidade do mercado são os maiores responsáveis por este cenário, com empresas de bens e serviços direcionando suas estratégias para públicos específicos – como a classe C – e impulsionadas a produzir mais.

O levantamento indica também que 30% das vagas serão preenchidas por jovens em situação de primeiro emprego, com 28% de possibilidade de efetivação, constituindo-se como importante chance de ingresso no mercado de trabalho. Aqueles que conseguirem demonstrar eficiência e comprometimento durante o período de cerca de três meses terão mais chances de continuar com a carteira assinada.

O comércio será responsável por 70% dessas vagas temporárias, com maior número de contratações em lojas de rua, supermercados e shoppings. Já a indústria, absorverá cerca de 22 mil trabalhadores na fabricação de alimentos, bebidas, brinquedos, eletrônicos, vestuário e papel. A maioria das vagas pede 2° grau completo e as formações técnicas em automação industrial, eletrotécnica, mecatrônica, química, informática e segurança do trabalho são as mais requisitadas, de acordo com a Asserttem.

Em Porto Alegre, a Câmara de Dirigentes e Lojistas (CDL) estima a abertura de um número maior de vagas temporárias em relação ao ano passado. Tatiana Zaffari, gestora de pessoas e qualidade da entidade, diz que o mercado já demonstra sinais de aquecimento e deve haver aumento de 5% no número de trabalhadores do varejo da Capital, que hoje é de aproximadamente 45 mil.

Muitas empresas do já estão contratando para posições de vendedores, caixas, estoquistas, auxiliares e gerentes, pensando no Dia da Criança como um treinamento para o Natal. Para ajudar a suprir essa demanda, a CDL criou há quatro anos o programa de responsabilidade social Talentos no Varejo. A iniciativa tem duas edições ao ano, preparando interessados em primeiro emprego ou recolocação no mercado de trabalho para datas comemorativas como Dia das Mães e Natal. Os candidatos passam por uma triagem e os 200 selecionados participam de workshops sobre temas como técnicas de venda, atendimento ao cliente, motivação pessoal, elaboração de currículo e comportamento em entrevistas.

A relação com empresas parceiras possibilita que todos os alunos passem pelo menos por uma entrevista de emprego e, em 2009, o percentual de contratados foi de 80%. “Esse ano, nossa expectativa é que pelo menos 35% dos trabalhadores contratados temporariamente sejam efetivados, pois o comércio segue em movimento no período das férias em função do Liquida Porto Alegre e outras promoções, devendo se manter aquecido durante o próximo ano”, afirma Tatiana.

Mercado pede qualificação

O bom momento, porém, não significa que haja vagas para todos: as exigências por profissionais com qualificação elevada são cada vez maiores e as empresas estão levando em conta não só experiência profissional, mas também competências pessoais. “O mercado exige pessoas qualificadas e com formação forte, cursos certificados em universidades reconhecidas e domínio do inglês e outras línguas”, ressalta Thaís Lichouteiro, consultora da Produtive. A fluência em idioma estrangeiro, segundo ela, pode aumentar em até 20% o valor do salário, especialmente em áreas nas quais profissionais com este tipo de habilitação são escassos, como recursos humanos, contabilidade e controladoria.

Quanto à seleção por competências, a psicóloga Zeila Bedin, diretora do Instituto de Desenvolvimento Global (IDG), reforça que os empregadores buscam candidatos com perfis diferenciados e com pontos específicos a serem desenvolvidos. “Há muitos profissionais formados, mas sem preparo para o mercado de trabalho, especialmente pela falta de experiências, conhecimento técnico, atitude e iniciativa”, diz Zeila. O perfil buscado cada vez mais envolve competências como resiliência – capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas -, foco no resultado, inovação, autoconhecimento e flexibilidade.

As empresas estão contratando baseadas nesses fatores, segundo a psicóloga, pois perceberam que pessoas não são apenas operacionais, mas também estratégicas. Desta forma, o foco não é ocupar uma colocação, mas suprir uma necessidade corporativa. Os funcionários são diretamente responsáveis por projetos e resultados, além de garantirem o fortalecimento das equipes trazendo perfis diversos e complementares.

Na contratação de executivos, o mínimo é uma formação universitária de qualidade, mas o que tem sido um diferencial é o direcionamento para a área de inovação com foco em desenvolvimento de produtos. Quem consegue agregar esse fator no currículo leva vantagem na seleção, pois ele é determinante no posicionamento competitivo das empresas no mercado, ressalta Rosane Kramer, diretora de eventos científicos da ABRH.

A criatividade deixou de ser o algo mais no comportamento profissional para ser fundamental nas admissões. Em pesquisa realizada com executivos de 1,5 mil empresas de diferentes países pela IBM prestadora de serviços, esse é fator avaliado na maioria das seleções, pela capacidade de resolver problemas a curto e longo prazo.

Nem todas as posições abertas são facilmente preenchidas, entretanto. Faltam profissionais principalmente com formação na área técnica. Rosane Kramer, da ABRH, ressalta que ainda existe uma valorização muito grande do ensino superior em detrimento ao técnico por parte da sociedade, apesar de o último oferecer muitas oportunidades e com boa remuneração. Por isso, vagas que exigem esse tipo de formação demoram mais tempo a ser preenchidas.

Falta mão de obra especializada

A fabricante de geradores de energia Stemac está com 84 posições abertas no Brasil, principalmente para os setores técnico e comercial, motivadas pelo final de ano e pela expansão dos negócios. Destas, as vagas que mais demoram em ser ocupadas são as primeiras, especialmente em cidades que não oferecem formação específica. “Eventualmente temos que contratar profissionais sem essa qualificação, mas que tenham potencial para treinamento, devido à carência de candidatos com o perfil buscado”, ressalta Ademar Mello, gerente de recursos humanos.

Na construção civil, que vive um momento de expansão em função das facilidades de crédito e obras de infraestrutura para eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, também falta mão de obra preparada. Levantamento feito pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou crescimento de 12,79% no número de empregos na construção civil brasileira, totalizando 314,2 mil oportunidades de trabalho neste ano. Ao todo, são 2,771 milhões de trabalhadores na área, recorde no País. Para suprir essa demanda, entidades e sindicatos já precisam pensar em treinamentos para os trabalhadores.

A falta de mão de obra qualificada na área tem levado, inclusive, à busca por profissionais no exterior. Apenas no primeiro semestre do ano, mais de 22 mil licenças de atividade profissional para estrangeiro foram oferecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, sendo 2 mil delas permanentes. Na área de Engenharia, foram 3.542 permissões em 2009, com previsão de crescimento de 39% este ano, passando a 4,8 mil estrangeiros.

Essas contratações acontecem principalmente para suprir demandas em projetos de infraestrutura em grande escala e na montagem de equipamentos importados, visto que a qualificação técnica da mão de obra brasileira não tem acompanhado o crescimento econômico do País.

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