As lições de negócios do mercado erótico

Investir em comunicação, entender o mercado, mudar para crescer: conheça os ensinamentos dessas empresas

Os empreendedores do mercado erótico enfrentam, muitas vezes, um começo difícil. O preconceito contra quem abre um negócio desse tipo vem não só de familiares e de amigos, mas do próprio público consumidor. “Na época em que comecei, todo mundo achava que eu tinha perdido a cabeça”, afirma Daniel Passos, fundador da Loja do Prazer, site de produtos eróticos que recentemente completou 14 anos. “O preconceito sobre quem consome e sobre a qualidade dos produtos persistiu até pouco tempo atrás. Só fomos ser reconhecidos mesmo há quatro anos”, diz.

Esse cenário, porém, vem se modificando devido a uma série de fatores, afirma Evaldo Shiroma, vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (ABEME). Ele também é o idealizador da Erotika Fair, maior feira do setor, cuja 20ª edição acontece entre os dias 4 e 7 de abril.

Shiroma explica que, com a internet, os clientes puderam receber seus produtos em casa, sem expor fetiches ou se associar à imagem negativa atribuída aos sex shops físicos. Já a atenção que os meios de comunicação passaram a dar a esse setor ampliou o conhecimento do público e aumentou a demanda. Por último, as mulheres, o principal público das marcas eróticas, começaram a se sentir mais à vontade para explorar sua sexualidade com essa gama de novos “brinquedinhos”. A série de livros “50 Tons de Cinza”, da autora E. L. James, e os dois filmes “De Pernas Pro Ar” também aumentaram a curiosidade e a procura dos brasileiros por produtos eróticos.

Agora, esses negócios, que conseguiram se estabelecer no mercado, podem passar valiosas lições de negócios para os outros setores.

1. Qualidade é essencial
Segundo os empresários desse mercado, a qualidade dos produtos eróticos sempre foi vista como questionável. “No começo, quase todas as empresas precisavam importar, e muitos itens não seguiam os padrões das leis nacionais”, afirma André Luis Marques, fundador da marca produtos eróticos Adão e Eva Toys. “Ainda assim, eram vendidos por um preço muito acima do normal.”

Para não afugentar os consumidores, que já tinham receio de consumir produtos desse mercado, essas empresas investiram em qualidade. Atualmente, a Adão e Eva, por exemplo, tenta produzir tudo o que vende. Se o item não é de fabricação própria, investe na importação de fornecedores confiáveis.

A marca sueca LELO, presente no Brasil desde 2012, investe pesado na engenharia e no design dos seus “produtos do prazer”. “Buscamos o minimalismo, a elegância e entregamos objetos que convidam o consumidor, em vez de assustá-lo”, diz Eliane Said, CEO e representante da LELO na América Latina. “Não queremos vender apenas brinquedos, aquela coisa instrumental, queremos vender um estilo de vida.” Presente em mais de 25 mil lojas pelo mundo, a marca produz vibradores que podem custar US$ 14 mil – usando até ouro e pedras preciosas como matéria-prima.

Para Shiroma, presidente da ABEME, esse rigor e zelo com a qualidade diminuem o receio do consumidor em conhecer uma marca de produtos eróticos.

2. Conheça seu mercado
Não adianta querer entrar em um mercado apenas porque ele está em crescimento, apostando no sucesso rápido. O mesmo vale para o setor de produtos eróticos. Shiroma afirma que não é preciso ser adepto de todos os fetiches possíveis, mas o empresário tem de interagir com esse setor, entender o que está fazendo sucesso ou não e buscar informações atualizadas para sair na frente dos seus concorrentes.

3. Mude para não morrer
Daniel Passos, da Loja do Prazer, começou nesse mercado com um site de conteúdo erótico, e a Adão e Eva era, na verdade, uma produtora pornô nos seus primeiros anos de vida. A pirataria, porém, veio para abalar a segurança dos dois negócios. Os empreendedores precisaram se adaptar e mudar para o comércio de produtos eróticos.

Ainda assim, as duas empresas vivem se reinventando para não perder antigos clientes e para ganhar novos. “Desde o começo, saí atrás do que não era tradicional nesse mercado”, afirma Passos. Atualmente, o site vende lingerie, roupas especiais de cama e chocolate. A Adão e Eva também correu para ter sua própria marca de cosméticos e hoje vende fantasias e artigos de sadomasoquismo. Para conquistar um público jovem, que está mais aberto a experimentar esse tipo de produto, a LELO lançará a marca Picobong.

As próprias lojas físicas precisam se reinventar constantemente para não perder seus clientes para suas versões virtuais. “É sempre recomendável investir no comércio eletrônico, mas muitos brasileiros ainda confiam mais em um local físico”, diz Shiroma. “Investir em design inovador, atendimento e preço será importante para esses negócios.”

Kit de dominação para iniciantes inspirado em “50 Tons de Cinza” e vibrador em forma de polvo do filme “De Pernas Pro Ar @”, ambos produzidos pela Adão e Eva

4. Aproveite o momento
Dois grandes fenômenos culturais impulsionaram a venda do mercado erótico nos últimos dois anos. O primeiro deles, a série de livros “50 Tons de Cinza”, fez com que muitos empresários do ramo investissem em acessórios de dominação e sadomasoquismo, principalmente em versões mais leves e para iniciantes no tema. “Por causa desses livros, as pessoas estão aprendendo a fantasiar e explorar mais sua sexualidade”, afirma Shiroma.

O outro fenômeno teve participação direta da Adão e Eva. Uma de suas clientes, que revendia produtos da marca e depois abriu seu próprio sex shop, serviu de inspiração para os dois filmes brasileiros “De Pernas Para o Ar”. No primeiro da série, a empresa de André Luis Marques faturou com um de seus protagonistas, um vibrador escondido em um coelho de pelúcia. Para não perder o sucesso estrondoso do primeiro longa, garantiu os direitos para produzir a estrela de sua continuação, dessa vez um vibrador em formato de polvo. “No primeiro filme, muitas outras marcas acabaram produzindo o mesmo vibrador”, diz. “No segundo já firmamos um contrato comercial, e todos os produtos que são mostrados são da nossa marca.”

5. Sonhe grande e se inspire fora do seu mercado
Para manter-se no mercado por 14 anos, o site de comércio eletrônico Loja do Prazer sempre buscou o profissionalismo – no que o mercado, de maneira geral, era incipiente. Por isso, foi preciso buscar inspiração em grandes nomes de outros setores. “Fugimos do amadorismo que havia no mercado erótico e nos espelhamos em grandes nomes do e-commerce, como o Submarino e a Dafiti”, afirma Passos.

6. Invista em comunicação
Uma das armas mais fortes do mercado erótico é a comunicação. “As diferentes mídias ainda são os grandes responsáveis por aumentar a demanda por esses produtos e também diversificar o público”, afirma Shiroma. A marca Adão e Eva investiu pesado na criação de blogs, catálogos e em mídias sociais para se tornar conhecida. “Você precisa se comunicar e criar um diálogo com esses possíveis consumidores para fazer com que eles tenham vontade de comprar os produtos”, diz Marques.

A LELO também investiu em comunicação para divulgar os benefícios de seus brinquedos e atingir um público diferente, o médico. “Hoje somos uma marca citada em diversas convenções de medicina, já que alguns dos nossos produtos são indicados para mulheres com problemas ginecológicos”, diz Elaine.

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