Caos nos aeroportos é ameaça para Copa
A falta de infraestrutura nos aeroportos brasileiros novamente foi o centro dos debates entre especialistas do setor aéreo e autoridades governamentais em evento de turismo. No sábado, durante o Festival de…
A falta de infraestrutura nos aeroportos brasileiros novamente foi o centro dos debates entre especialistas do setor aéreo e autoridades governamentais em evento de turismo. No sábado, durante o Festival de Turismo de Gramado, encerrado neste final de semana, especialistas disseram não acreditar que o governo poderá dar conta de todas as demandas dentro dos aeroportos brasileiros – que vão desde falta de organização nos terminais até a necessidade de ampliações de pistas – até a Copa do Mundo de 2014. “Os investimentos nos aeroportos ainda são praticamente nulos, mesmo com todos os problemas que sabemos que eles enfrentam”, apontou José Márcio Mollo Monson, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação (Snea). Até agosto, a Infraero havia investido apenas 17% do total de verbas programadas para os aeroportos em 2010, afirmou.
Neste ritmo, as obras necessárias para aprontarem os aeroportos para a explosão de demanda na Copa e também nas Olimpíadas de 2016 não ficarão prontas, opinou o especialista. “O PAC 2 diz que fará em dois anos os novos terminais necessários nos aeroportos. Isto é uma piada: apenas as obras externas de acabamento do aeroporto de Galeão, no Rio de Janeiro já levaram mais de três anos.”
Os problemas dos aeroportos brasileiros vieram à tona quando milhões de pessoas passaram a ascender à classe C e usufruírem destas estruturas, na última década. Em 1990, 15 milhões de passageiros haviam embarcado para viagens domésticas. Em 2009, este número chegou a 60 milhões, uma aceleração de 17% sobre o ano passado, e deve chegar a 70 milhões neste ano.
Alguns aeroportos que são considerados gargalos correm maiores riscos de entrarem em colapso durante o evento. Guarulhos hoje transporta 23 milhões de pessoas por ano, o que significa 25% além de sua capacidade. Durante a Copa, a previsão é que este número chegue a 29 milhões. Situação semelhante se encontra o aeroporto de Congonhas, cuja capacidade está ultrapassada em 22% e igualmente não recebe melhorias. Um agravante é a falta de estrutura rodoviária e ferroviária.
A necessidade de reformas, no entender de Respício Espírito Santo Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo, começa nos níveis de serviços nos aeroportos.
“Os banheiros dos aeroportos do Brasil são péssimos, não há estacionamento para receber grande número de passageiros, a sinalização interna é muito fraca e temos filas intermináveis nos balcões de check-in”, apontou.
As qualificações que recomenda passam por implementação de novas tecnologia nos pontos de contato com os clientes, como baggage holding e sistemas de biometria no controle de check-in e imigração. “Temos que exigir essas melhorias não apenas para a Copa, mas para o uso dos brasileiros.”
Para Infraero, desafio é fazer planos se tornarem realidade
As autoridades de aviação do governo federal concordam que há muito a ser feito nos aeroportos, mas afirmam que estão agindo, e as obras só não andam mais rápido por que existe dificuldade de transformar o planejamento em obras. Durante o Festival de Gramado, o superintendente do Aeroporto Internacional Salgado Filho, Jorge Herdina, da Infraero, afirmou que em Porto Alegre vêm sendo adotadas medidas para solucionar as questões do dia a dia, como a segurança e os congestionamentos na entrada do terminal.
Mencionou a renovação dos sistemas internos de segurança, o aumento dos balcões de check-in, que mais do que dobraram, e a presença de fiscais de trânsito no local. No entanto, aponta dificuldades para colocar em prática reformas estruturais e de grande porte devido à burocracia e a opiniões divergentes entre especialistas. “Planejamento tem, o difícil é a execução. É preciso constante desenvolvimento e mobilização política para que as melhorias sejam executadas.”
Herdina ressaltou a reabertura prevista do Terminal 2 do Salgado Filho, que terá capacidade para receber até 1,5 milhão de passageiros por ano – um aumento de 15% sobre a atual capacidade, e a adição de dois novos canais de inspeção, que ampliará a capacidade de entrada e saída de clientes no aeroporto. Ele disse que agora todas as esferas estão falando a mesma língua, por isso as obras vão sair.
Também chamou a atenção para a licitação já aberta para ampliar a logística de cargas, em que serão investidos R$ 93 milhões. Por fim, anunciou que nesta quarta-feira está marcada uma audiência com moradores ao redor do Aeroporto para tratar da desapropriação de suas casas, com vistas à ampliação da pista. (EF)
Anac teme crise aérea e convoca reunião urgente
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) convocou para hoje uma reunião, em regime de urgência, com os presidentes das principais companhias aéreas, além de representantes da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Polícia Federal, Receita Federal e Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). A agência está preocupada com o risco de problemas nos aeroportos em dezembro, durante as festas de fim de ano.
O risco vem da combinação de três fatores: a afluência em massa de passageiros estreantes; a venda de passagens além da capacidade das companhias, e o despreparo dos aeroportos em receber usuários que desconhecem os procedimentos de embarque. A prática de venda de passagens para voos extras ainda não autorizados está preocupando a diretoria da Anac.