Consumidor brasileiro culpa empresas e governo pela pirataria
O problema da falsificação de produtos e a percepção do consumidor brasileiro nessa questão foi tema de uma pesquisa elaborada pelo Instituto Akatu, entidade especializada no consumo consciente. O…
O problema da falsificação de produtos e a percepção do consumidor brasileiro nessa questão foi tema de uma pesquisa elaborada pelo Instituto Akatu, entidade especializada no consumo consciente. O levantamento, patrocinado pela Microsoft, dá voz aos consumidores desses produtos, que desprezam ações anti-pirataria por não confiarem em empresas privadas e instâncias governamentais, a quem culpam e consideram como os verdadeiros responsáveis pelo problema.
A pesquisa levou em conta dados já existentes de duas pesquisas, em especial as realizadas pelo Ibope em 2006, que ouviu 1.715 moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e outra realizada pela Fecomércio no ano passado, em mil residências espalhadas por 70 cidades do país.
A segunda fase consistiu em uma pesquisa qualitativa com homens e mulheres de 18 a 40 anos das classes A, B e C na cidade de São Paulo, entre consumidores comuns e formadores de opinião.
Consumo de produtos piratas cresceu em todas as classes sociais
Segundo dados do Ibope, entre 2005 e 2006 houve um crescimento no consumo de produtos piratas em todas as classes sociais do Brasil. Os números mostram que a classe A passou de 50% para 58%, a classe B saiu de 61% e pulou para 65% enquanto a classe C aumentou de 60% para 68%. Apenas as classes D e E mantiveram patamar estável entre 56% e 57%, respectivamente.
Como resultado, a Akatu constatou que os consumidores sabem que estão comprando produtos ilegais e falsificados associados ao crime organizado e à sonegação de impostos, e que têm conhecimento de que seu consumo prejudica o comércio formal.
Apesar disso, os motivos apontados por eles variam desde o custo benefício até a própria falta de repressão a esse comércio ilegal, com produtos vendidos à luz do dia em lugares públicos, dando a impressão de uma permissão implícita.
Consumidor culpa empresas e governo pelo problema
Eles acreditam ainda estar ajudando os camelôs a não seguirem o caminho do roubo como sobrevivência e que os fabricantes, artistas e autores de produtos legais já seriam “muito ricos”, e não seriam afetados por essa prática. Não há ainda uma consciência da relevância de sua compra no alimento do crime organizado, por conta do baixo valor pago em cada mercadoria. O consumidor não se sente o principal culpado pelo problema da pirataria e rejeita campanhas que o acusam pelo problema.
“Para eles, os grandes responsáveis são as instâncias governamentais ao permitirem a entrada, fabricação e comercialização de produtos e não desenvolverem políticas sociais que dêem empregos a todos na economia formal”, explica Débora Rocca, coordenadora de Pesquisas e Métricas do Instituto Akatu, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Eles culpam ainda as empresas e marcas, por praticarem preços inacessíveis e, ao mesmo tempo, estimular o desejo de consumo em ações de Marketing e Publicidade.
Descrença motiva desprezo a ações anti-pirataria
Segundo a Akatu, ações voltadas exclusivamente contra a pirataria tendem “a cair no vazio”, devido ao contexto de descrença em instituições governamentais e de iniciativa privada. As marcas devem investir em ações de responsabilidade social para afastar a imagem de empresas focadas apenas em gerar lucro e, desta forma, acabam se distanciando da sociedade.
“Uma campanha anti-pirataria tem mais chances de dar certo se fizer o consumidor refletir, em vez de adotar tom acusatório; se ficar claro que envolve também o governo e as empresas, não deixando o consumidor isolado com a responsabilidade de mudar toda a sociedade”, aconselha Rocca.
Solução pode estar em Responsabilidade Social
A solução pode estar em ações de apoio a camelôs, por mais contraditório que isso possa parecer, para sensibilizar e atrair consumidores. “Isso com certeza daria certo. Não adianta esconder camelôs em becos ou colocarem para trabalhar em fábricas, por exemplo, se eles querem é trabalhar com comércio onde tenha movimento”, explica Suzane Strehlau, professora da ESPM especialista em falsificação de produtos de luxo.
Uma estratégia seria ajudá-los a exercer o comércio de forma legal, seja através do suporte de registro de CNPJ, financiamento de capital de giro ou mesmo na formação de cooperativas.
Outras opções são ações em conjunto com o governo além da simples busca e apreensão de produtos falsificados, como ações junto às fronteiras nacionais de forma a averiguar o valor em nota fiscal de determinado tipo de produto. Se este for muito baixo, é bastante provável que se trate de um artigo pirateado. Strehlau atenta ainda para a importância de valorização da marca, como diferencial importante contra falsificações. “É verdade que a marca encarece o produto, mas as pessoas pagam por isso”, diz a professora.
Brasil ainda não é o pior dos cenários
O objetivo é fazer com que o Brasil se aproxime dos índices de países desenvolvidos, onde a pirataria é mais branda. Uma pesquisa realizada em 2005 pela Business Softwares Alliance (BSA) sobre o consumo de softwares no mundo, registra índices de 20 a 30% de softwares piratas em países como Japão, Estados Unidos e Bélgica.
Em comparação com outros países da América Latina, no entanto, o cenário brasileiro vence, com índice maior apenas que a Colômbia (57%). Aparecemos também como a nação que menos falsifica softwares no grupo de países emergentes da BRIC – Brasil (64%), Rússia (83%), Índia (72%) e China (86%).