Consumo em nível recorde em 2010 deve voltar a padrão sustentável em 2011

SÃO PAULO – Se neste ano o consumo das famílias brasileiras atingiu níveis recordes, em 2011 deve voltar a um padrão considerado mais sustentável, por influência das medidas do Banco Central para…

SÃO PAULO – Se neste ano o consumo das famílias brasileiras atingiu níveis recordes, em 2011 deve voltar a um padrão considerado mais sustentável, por influência das medidas do Banco Central para restringir o crédito. A avaliação é do economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Emílio Alfieri.

O movimento do comércio, medido pelas consultas ao SCPC, conforme estima o economista, deve sair de um crescimento superior a 10% neste ano, com pico de 14% agora em dezembro, devido às compras natalinas, para uma alta entre 6% e 7%, já registrada em anos anteriores. “Este ano de 2010 não vai se repetir, você normalmente fala feliz ano novo, mas hoje vamos ter de falar feliz ano velho”, afirma Alfieri, que, no entanto, acredita ter sido acertada a decisão tomada pelo BC. “[O consumo] vai desacelerar, mas neste ritmo que está hoje não se sustenta, o governo vai ter de tirar o pé do acelerador para arrumar a economia. Hoje, a inflação está acima do centro da meta, então ou sobe os juros ou diminui o crédito e, para o governo, é melhor segurar o crédito via compulsório”, explica.

O compulsório a que o economista se refere é uma parte do dinheiro recebida pelos bancos dos seus clientes que deve ser depositada em uma conta do Banco Central. No início de dezembro, a autoridade monetária aumentou os depósitos a serem feitos pelas instituições, de 15% para 20%, no caso dos depósitos a prazo, e de 8% para 12%, nos depósitos à vista e a prazo. Com isso, um montante de R$ 61 bilhões a mais passará a ser recolhido pelos bancos ao BC, o que vai diminuir o dinheiro disponível para empréstimos.

De olho na inflação

Compartilhando da opinião do economista da ACSP, o presidente do Provar (Programa de Administração de Varejo), professor Cláudio Felisoni, crê que essas medidas devem até afetar a capacidade de consumo do brasileiro, por diminuir a oferta de crédito, mas podem se mostrar importantes no médio prazo, justamente por tentar preservar o poder de compra. “É de se esperar que haja uma contenção da inflação, com a adoção dessas medidas, o que para o consumo é bom no médio prazo, porque a inflação é um imposto que retira renda, e é regressivo, porque retira renda de quem ganha menos, corrói exatamente o poder de compra das classes mais baixas”.

Como as medidas tomadas pelo BC podem afetar as compras parceladas, já a partir dos primeiros meses do próximo ano, Alfieri considera que o comércio vai buscar alternativas para atrair o consumidor. “A estratégia vai ser ver quanto desacelera para reavaliar os negócios na tentativa de usar um pouco menos o crédito e um pouco mais a venda à vista, pode ser que (o comerciante) mude um pouco o mix de produtos, indo um pouco mais pra vestuário, calçado e pequenos valores”, afirma, acrescentando que os varejistas podem também tentar segurar os preços, além de realizar promoções e liquidações.

2010: melhor da década para o consumo

As previsões para 2011 podem não ser tão positivas para o consumo, mas o ano de 2010 termina como o melhor da década, afirmação do economista da ACSP corroborada por recente pesquisa de intenção de consumo das famílias da CNC (Confederação Nacional do Comércio). O indicador, que já vinha crescendo desde maio, atingiu neste mês o terceiro recorde seguido, para 143,4 pontos, e variou quase 6% nos últimos 12 meses.

Além das boas condições do crédito que, conforme já mencionado, deve sofrer uma reversão, o consumo teve como principais motores a expansão da renda da população e a geração de empregos. “O brasileiro se sentiu seguro no emprego para assumir uma dívida que compromete uma parte, cerca de 25% do salário, e entrar nas prestações, alavancando bem as vendas, principalmente as vendas a prazo”, afirma Emílio Alfieri.

Para o presidente do Provar, um outro fator, novamente relacionado ao crédito, levou os brasileiros às compras. “Temos uma taxa de juros de 40% ao ano, o que dá uma taxa de 3% ao mês, que embora não seja baixa, é a mais baixa da série histórica de juros ao consumidor final”, diz.

Classes emergentes

E essa combinação de salário em alta e crédito farto beneficiou mais a chamada nova classe média, que vem se destacando nos últimos anos no mercado consumidor. “O IBGE dá conta de que, de 2004 a 2009, tivemos a emergência de 30 milhões de pessoas, que saíram das classes D e E e alçaram à classe C, e a explosão do consumo se deve muito a esse efeito distributivo”, afirma Claudio Felisoni.

“Melhorou bem a distribuição do consumo, que era muito concentrado nas classes AB, então, a classe C entrou e com o mesmo nível de consumo das classes AB, e é por aí que a economia vai crescer”, concorda o economista da ACSP, chamando a atenção para o principal efeito que essas mudanças na pirâmide social provocam: “Estamos indo para uma sociedade de consumo de massa, com escalas grandes de atendimento, principalmente na área de supermercado, hipermercado, onde você vê de tudo, desde um saquinho de arroz, feijão, até uma TV de LED”, afirma.

Ainda de acordo com Alfieri, diferentemente das classes AB que, embora mais abonadas, têm outros tipos de preocupação, como a aposentadoria ou o pagamento do plano de saúde, por exemplo, a emergente classe C caracteriza-se por mais ser mais jovem e carente, e daí ter a necessidade de consumir mais.

De fato, conforme mostra levantamento do instituto Data Popular, a classe C, sozinha, responde hoje por mais de 41% do consumo total de bens e serviços nas cidades, quase atingindo o índice de participação das classes A e B, juntas, de 42,9%. Além disso, entre 2002 e 2010, o nível de consumo da classe emergente cresceu mais de sete vezes, ante o crescimento de três vezes da alta renda.

No entanto, para o economista da ACSP, esse movimento de inclusão social vem ocorrendo desde a década de 90. “O Fernando Henrique Cardoso já tinha recuperado muita gente da pobreza dando crédito, são 16 anos de duas políticas iguais”, diz o economista da ACSP, fazendo uma comparação com o seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar de ser o mais beneficiado pelas boas condições de crédito, o consumidor da classe C não deve o mais afetado pelas restrições adotadas pelo BC. “A retração vai afetar mais as classes D e E, porque o salário, por mais baixo que seja, dá para comprar uma cesta básica, por exemplo, e o resto, é usado no consumo e via crédito, porque essas classes são mais carentes ainda do que a classe C”, observa Alfieri.

Mesmo que não seja a mais prejudicada, diz o economista, a nova classe média é a que mais vem consumindo sem planejamento, comprometendo-se com dívidas que podem ser difíceis de quitar no futuro. “Tem uma faixa intermediária, que ganha de R$ 1,5 mil até R$ 2,5 mil, em que o principal fator de inadimplência é o descontrole do gasto (nas demais faixas de renda, é o desemprego). É o consumidor que tem dois, três carnês, dois, três cartões, e agora está com dificuldade para pagar”, completa ele.

Produtos

Quanto às categorias de produtos, independentemente de faixa de renda, este ano foi marcado pelo consumo de bens duráveis, também beneficiado pelas compras financiadas e em prazos mais longos. “Os itens mais priorizados foram automóveis, que, de acordo com o IBGE, tiveram expansão de 16% nas vendas, o que é muito significativo, e os produtos com tecnologia, particularmente, computadores, impressoras e câmeras digitais”, explica o presidente do

Provar

A estes produtos, o economista da ACSP acrescenta os da linha branca, como televisores e aparelhos de som e vídeo, cujas vendas permaneceram em alta até julho, primeiro por causa das desonerações de impostos e, depois, com a retirada dos incentivos fiscais, por causa da Copa do Mundo. Alfieri menciona ainda que outro fato marcante para o consumo neste ano foi o fator cambial, já que, com a valorização do real frente ao dólar, os importados baixaram de preço, ficando mais acessíveis aos brasileiros.

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