Décimo-terceiro deve ser gasto com cuidado, alertam especialistas
Benefício que começa a ser pago em novembro vai injetar R$ 7,5 bilhões na economia gaúcha
O fim do ano se aproxima e com ele a expectativa de ver o contracheque mais farto com o 13º salário. Diante de uma quantia que vai além dos rendimentos tradicionais, existem certos cuidados que os trabalhadores devem ter ao administrar o benefício. A condição financeira de quem põe as mãos no rendimento extra é o termômetro ideal para saber como utilizar o recurso. Dependendo do nível de endividamento, especialistas recomendam cautela na hora de gastar o 13º, que vai injetar R$ 118 bilhões na economia brasileira e R$ 7,5 bilhões no mercado gaúcho até o fim deste ano, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A fisioterapeuta Daiane Oakes bem que gostaria de destinar o seu 13º salário às férias. A ideia de um cruzeiro em alto mar por sete dias é tentadora, mas – com os pés em terra firme – ela prefere antecipar o pagamento de alguns impostos e quitar as dívidas em andamento. Entre os gastos, figuram a anuidade do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) e o IPVA. “Nessa época há um bom desconto, o que é melhor do que parcelar, pois depois das férias ainda teria que continuar pagando as parcelas”, destaca. Se o pagamento dessas contas não esgotar o benefício, Daiane ainda quer comprar um aparelho de fisioterapia como investimento profissional.
A conduta da fisioterapeuta vai ao encontro do que muitos especialistas recomendam: usar o dinheiro para manter a balança financeira estável, e somente depois despender o benefício com artigos de lazer. O professor de finanças do Grupo Ibmec Gilberto Braga recomenda que antes do consumo, é importante liquidar as pendências para manter o orçamento em dia. A regra vale principalmente para quem está com dívidas acumuladas ou atrasadas, em que os juros incidem mais agressivamente. “Isso é necessário porque os juros cobrados no mercado são muito elevados – os maiores do mundo – e não há o que justifique usar o 13º salário pelo prazer do consumo quando os juros do cartão de crédito ou empréstimo estão correndo”, alerta Braga.
O economista e educador financeiro Everton Lopes destaca que para os trabalhadores que veem suas dívidas extrapolarem o orçamento, simplesmente não há alternativa a não ser destinar o recurso ao pagamento delas.
Já aqueles que possuem contas, porém, não em atraso, a orientação é pagá-las e tentar antecipar o pagamento de tributos para aproveitar os descontos, além de reservar uma fatia para outras faturas que chegam com o novo ano. Apesar de parecer simples, Lopes explica que muitas vezes o 13º não tem o destino adequado. “As pessoas vão empurrando as contas ao longo do ano e como sabem que o 13º chega em novembro, acabam usando o recurso para limpar seu nome”, diz.
Lopes ressalta que a possibilidade de usar o 13º salário para equilibrar as contas é uma oportunidade para dar sequência à estabilidade financeira. Quando o assunto é empréstimo, ele sugere que o consumidor troque uma linha de financiamento antiga por uma mais atual, levando em contra a trajetória de queda dos juros básicos. “Qualquer momento pode ser bom para rever o orçamento, mas com o 13º as pessoas podem equilibrar suas finanças e passar a gastar menos do que ganham.”
As festas de fim de ano não podem ser esquecidas, já que coincidem com o pagamento do salário extra e também geram custos adicionais. O educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos afirma que esse é um importante destino para o recurso. “Reservar para essas finalidades é um bom uso do 13º, embora o ideal é que ele chegasse como um bônus para realização de satisfações pessoais, como um presente”, argumenta.
Recurso pode quitar parte das dívidas e reduzir a inadimplência
O destino do 13º é variado e depende do equilíbrio (ou falta dele) nas finanças pessoais. Para a economia brasileira, o recurso impulsiona as vendas de Natal e de Ano-Novo, além e atiçar o ímpeto consumidor dos trabalhadores. Neste ano, entretanto, o consumo pode ficar em segundo plano, segundo o gerente de indicadores da Serasa Experian, Luiz Rabi.
Ele observa que o aumento da inadimplência registrado em 2011 deve ser determinante para que o 13º seja maciçamente revertido para o pagamento de dívidas atrasadas. “O Brasil está mais inadimplente, e é provável que uma parcela maior do 13º seja utilizada para regularização da situação financeira”, pontua. Além disso, Rabi lembra que na comparação com 2010, o consumo desacelerou, situação que deve ter reflexos nas comemorações que se aproximam.
O dirigente ainda orienta que os consumidores tenham cautela e não se deixem levar pelas promoções de fim de ano. “O consumidor tem que ficar atento pois está mais endividado, alguns mais inadimplentes que no ano anterior, então é importante e priorizar a regularização da situação, não consumindo além das necessidades.”
Investir é saída para rentabilizar o dinheiro extra de fim de ano
O ideal para o professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Samy Dana é que os consumidores dividam seus rendimentos em três partes: um terço para custos básicos de custeio do lar e alimentação, um terço para alimentação fora de casa, roupas e gastos supérfluos e o terço restante para investimentos e construção do patrimônio. Segundo ele, a lógica dever ser a mesma com o 13º salário. A principal dica do especialista é evitar o endividamento com o recurso adicional.
Dana destaca que o início do ano traz contas suplementares, como matrícula escolar e impostos que devem ser contabilizados na hora de gastar o rendimento extra.
Para ele, parte do planejamento financeiro deve contar com a provisão dos gastos esporádicos, fazendo com que o 13º também seja direcionado para esse fim.
Se as contas estiverem em dia e o equilíbrio financeiro for uma realidade, os investimentos podem tomar espaço ainda maior para parte do benefício. O professor recomenda que os trabalhadores fiquem de olho em aplicações de renda fixa, que ainda são vantajosas com os juros praticados no Brasil. “Os títulos do governo, particularmente, têm um retorno bastante atraente, melhor ainda são os títulos do tesouro direto, que podem ser administrados pela internet”, sugere.