Desemprego maior justifica recuo em comércio e serviços, diz BC

A alta do desemprego, que impacta a massa de salários no Brasil, justifica o recuo da atividade no comércio e no setor de serviços nos últimos anos

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou nesta sexta-feira, 10, que a alta do desemprego, que impacta a massa de salários no Brasil, justifica o recuo da atividade no comércio e no setor de serviços nos últimos anos. “No Nordeste, tivemos uma defasagem na redução do emprego industrial ante outras regiões. Um dos motivos é a construção civil e a agropecuária”, pontuou Maciel.

Ainda assim, de modo geral, o cenário de desemprego alto atinge o comércio e os serviços em todo o País. “No Nordeste, a alta do desemprego ocorreu porque as pessoas estavam trabalhando e perderam o emprego. No Sudeste, ocorreu pela entrada de novas pessoas no mercado de trabalho”, disse. Maciel afirmou ainda que a perda de postos de trabalho tem impacto sobre o poder de compra. “Do ponto de vista social, o impacto é mais relevante no Nordeste.”

O Banco Central publicou nesta sexta, em Belo Horizonte, seu Boletim Regional Trimestral. Participam de entrevista coletiva para apresentação dos números o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, e o coordenador da Gerência Técnica de Estudos Econômicos em Belo Horizonte, Rodrigo Lage de Araújo.

Oscilações comuns

O chefe do Departamento Econômico do BC afirmou também que oscilações nos dados de atividade, como as verificadas no Boletim Regional Trimestral, são comuns em um processo de acomodação da economia. No boletim anterior, divulgado em dezembro, os números do BC deram conta de certa melhora na atividade em algumas regiões do País no trimestre encerrado em agosto. No documento distribuído nesta sexta, porém, todas as regiões voltaram a registrar retração na atividade, no trimestre finalizado em novembro.

Questionado a respeito de uma possível inflexão na atividade, Maciel afirmou que as oscilações são normais e que os resultados negativos se devem a fatores específicos de cada região. No Centro-Oeste, a safra de milho impactou a indústria local. Já a Região Nordeste se ressentiu do impacto do clima na safra”, citou. “Um conjunto de fatores ajudam a explicar essas oscilações que ocorreram.”

Ao mesmo tempo, Maciel afirmou que há fatores, na margem, que indicam reação da atividade. “A leitura é de que temos perspectiva de crescimento moderado para 2017”, disse.

A respeito das dificuldades fiscais de vários Estados, Maciel afirmou que isso está ligado, em grande parte, à atividade. “Dois anos de queda da atividade impactaram o fiscal, com efeitos nas contas”, afirmou. “Vários Estados encontram-se de fato em situação fiscal difícil, mas a expectativa de reversão da atividade econômica tende a melhorar o quadro”, afirmou.

Crédito

O representante do BC reiterou que a perspectiva para 2017 é de retomada do crescimento do crédito. Em 2016, o saldo das operações de crédito registrou o primeiro recuo da história, em função da crise econômica.

“De 2015 para 2016, tivemos desaceleração importante na trajetória do crédito. Essa retração em 2016 também impacta as vendas no varejo e nos serviços”, comentou. “Para 2017, a estimativa é de que crescimento do crédito retorne, mas de forma moderada.”

Maciel abordou ainda, na apresentação do Boletim Regional, a questão fiscal das regiões e dos Estados. “Observamos uma deterioração das contas fiscais em 2015 e 2016. O ano passado foi difícil para os Estados. A recessão impactou o fiscal”, disse.

No caso da balança comercial, de acordo com Maciel, houve uma melhora nos números, em função do processo de ajuste do câmbio. “Até 2015, a conta corrente era uma preocupação. Em 2016, tivemos resultado favorável”, citou, em referência à contribuição da balança comercial para as contas externas. “Boa parte do ajuste positivo na balança comercial se deve ao menor volume de importações.”

Em outro momento da apresentação, Maciel citou os choques dos preços monitorados, em 2015, e dos alimentos, no primeiro semestre de 2016. “Mas ao longo de 2016, os efeitos secundários nos preços foram contidos por política monetária”, disse. “O processo de desinflação é difuso, ele atinge grande parte dos itens.”

Atividade do Sudeste

Maciel ponderou ainda, especificamente sobre o Sudeste, que os dados do BC mostram tendência de acomodação no recuo da atividade, na margem. “Isso denota uma perspectiva mais favorável para a região”, disse.

Meta de inflação

O chefe do Departamento Econômico do BC evitou comentar a possibilidade de o Conselho Monetário Nacional (CMN), em encontro no meio do ano, reduzir a meta de inflação. “A questão da meta de inflação, teremos que aguardar o CMN”, limitou-se a dizer.

A meta de inflação atual é de 4,5% para 2017 e 2018, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual. Em função das taxas mais contidas de inflação nos últimos meses, com as projeções indicando a tendência de cumprimento para este e para o próximo ano, especula-se que o CMN – formado por BC, Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento – possa estabelecer uma meta inferior a 4,5% para 2019.

Publicamente, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vêm repetindo que a meta de inflação de 2019 será discutida apenas em junho. “Estamos tendo um período benigno de inflação nos últimos meses. Os choques de preços monitorados e de alimentos estão sendo superados”, disse Maciel, evitando abordar diretamente a questão da meta.

Fonte: Isto É Dinheiro

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