Especialistas e varejistas divergem sobre efeitos da mudança da data da Black Friday

A iniciativa está sendo levantada pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), que lidera as discussões e diz já ter apoio de “cerca de 70%” de quem participou das reuniões até agora

A possível mudança da Black Friday em 2018, que passaria a ser comemorada em setembro, como adiantou o E-Commerce Brasil em matéria publicada na última quinta-feira (10), não é consenso no mundo do comércio eletrônico. O 13° salário e a consolidação da data no mercado podem ser os principais entraves para alterar a data, segundo apontam especialistas e varejistas escutados pela reportagem.

A iniciativa está sendo levantada pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), que lidera as discussões e diz já ter apoio de “cerca de 70%” de quem participou das reuniões até agora.

No e-commerce, a ideia ganhou defensores e críticos vorazes. Para Ângelo Vicente, por exemplo, sócio-proprietário da loja virtual E-Cadeiras, dependendo de como a mudança for conduzida, os impactos sobre o faturamento podem ser negativos.

“Se a iniciativa for criar novas oportunidades de venda isso, pode ser positivo porque acaba com a concorrência da Black Friday com o Natal. Por outro lado, o consumo varia muito conforme a disponibilidade de renda das pessoas”, ponderou.

De acordo com Vicente, “o ano fiscal no Brasil” e a maior parte da renda dos brasileiros – principalmente o 13° salário – estão concentrados nos meses de novembro e dezembro. Por outro lado, nos EUA, a renda é concentrada em julho. Além disso, ele acredita que a proposta representa um conflito entre o varejo físico e o online. “Nesta guerra, o digital é uma bomba nuclear e o varejo físico é uma pistola”, disparou.

Já Gabriel Lima, fundador da Enext Consultoria e especialista em e-commerce, considera a iniciativa positiva e reforça que o consumidor brasileiro está muito mais sensível a preço e descontos agressivos do que a uma data específica. Enquanto isso, o americano está de olho nos lançamentos e tendências.

“A Black Friday é uma data que funciona muito bem no mercado americano porque o giro de estoque lá é diferente, os custos de modo geral são mais baixos e as margens são maiores”, apontou. Inclusive, as liquidações que antecedem o Natal nos EUA são necessárias, segundo Lima.

Para ele, o 13° salário não deve ser um fator limitador, já que o consumidor dispõe de outras facilidades, como condições de pagamento especiais e parcelamento.

Novos players

A consolidação da data em novembro, já na cabeça do consumidor, pode ser outro empecilho no caminho de quem se diz favorável à mudança.

A indústria, por exemplo, que está dando os primeiros passos na digitalização e começou a participar recentemente das edições da Black Friday, pode sofrer mais impactos negativos.

“Vejo a iniciativa como negativa, principalmente para a indústria, pois estamos há um tempo considerável trabalhando na evangelização digital dos players do setor, chamando estrategicamente cada fornecedor e mostrando a eles o que é a Black Friday”, explicou Edilaine Godoi, gerente de e-commerce da Ikesaki. “O que eu acho que vai acontecer: alguns vão aderir, e outros, não”, opinou.

Allison Rabelo Kayo, coordenador de e-commerce da Copel Colchões, esteve no último evento realizado pela Alshop e concorda com Edilaine.

Na sua opinião, o segmento de colchões não sofre com a sazonalidade tradicional, mas varia de acordo com o clima e a estação. Além disso, ele relata que o seu consumidor de colchões não é “heavy user”, o que dificulta ainda mais o trabalho de “evangelização” dos clientes.

“Quando falamos de camas e colchões, conversamos com um público que tem mais de 40 anos, logo, foi difícil conquistar a confiança dele. Antecipar a data seria ruim para a fidelização e ainda para a credibilidade do evento”, cravou.

Receio

Outra empresa que não deve sentir impactos operacionais com a mudança é a Privalia. Para Débora Capobianco, Head de Marketing da outlet virtual, faz sentido mudar a data, uma vez que setembro é considerado um “mês morto” no e-commerce.

“O próprio E-bit divulgou alguns dados que mostram que a maioria das pessoas compram para si mesmas na época da Black Friday [e não presentes de Natal], o que mostra que não necessariamente as pessoas esperem até novembro para comprar”, disse. Apesar disso, ela pontua, talvez a mudança não melhore as vendas, mas acabe tirando a força da Black Friday.

A Arezzo também teme o enfraquecimento da data, caso apenas parte do mercado migre as promoções para setembro. Além disso, um fator complicador para a marca deve ser conciliar os efeitos da mudança entre o e-commerce e as franquias.

Mesmo com essa desvantagem, Cleyton Soares, gerente de E-commerce da marca, avaliou a iniciativa como potencialmente positiva. “Numa primeira análise, a mudança poderia favorecer o nosso e-commerce, porém, não poderíamos tomar nenhuma decisão sem consultar todos os nossos canais”, apontou.

Além de empresas como a Chilli Beans, B2W e Via Varejo, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) também foi convidada para participar das discussões sobre a mudança na Alshop.

O atual secretário do órgão, Arthur Rollo, afirmou por meio de sua assessoria que vai participar do processo de discussão na “condição exclusiva de mediador” e não pretende interferir nas iniciativas e decisões que forem consensuais do mercado lojista, por terem caráter exclusivamente privativo do segmento.

“O convite para participar das negociações partiu do senhor Luís Augusto, da Alshop de São Paulo. Ainda não houve qualquer reunião entre o grupo e a secretaria”, completou.

Alternativas

Polêmicas à parte, equilibrar a sazonalidade das vendas é um desafio que está longe de ser solucionado. Apesar de iniciativas como o “Dia do Consumidor” mobilizarem o setor como um todo, o calendário de vendas do e-commerce ainda “pende” muito para o final do ano.

“No início, a Black Friday era um momento de queima de estoque, que se desvirtuou. Agora vai ser difícil voltar atrás”, comenta Luiz Pimentel, Diretor de Marketplaces e Serviços do Walmart. Apesar de não refletir o posicionamento da empresa, Pimentel reforça que considera positiva a mudança. “Desde que o consumidor seja comunicado com antecedência, não vejo problemas”, enfatizou.

Em busca de equilibrar o calendário de vendas, a Netshoes, um dos maiores e-commerces do Brasil, criou alternativas como o “Black November”. Em entrevista ao E-Commerce Brasil em setembro do ano passado, o fundador da empresa, Márcio Kumruian disse que a estratégia ajuda a “diluir” o efeito Black Friday, além de resolver outro problema sistêmico: a avalanche de pessoas entrando nas lojas.

“Dessa forma diminuímos também o sentimento de “Black Fraude”, o arrependimento do comprador e conseguimos administrar melhor os prazos de entrega. A ideia é trabalhar em conjunto com os outros lojistas para melhorar a usabilidade da Black Friday e garantir transparência e efetividade da data”, finalizou.

Fonte: Ecommerce Brasil

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