Ibovespa sobe 2% e já supera máxima histórica em mais de 600 pontos
Índice rompe máxima de 2008 e ganha força com noticiário positivo no front doméstico e no exterior
Após bater na trave nos pregões da última semana, o Ibovespa enfim superou sua máxima histórica, de 73.920 pontos, registrada no intraday da sessão de 29 de maio de 2008. O feito ocorreu às 10h32 (horário de Brasília) desta segunda-feira (11), e desde então o índice ganhou ainda mais força diante de uma combinação de 3 fatores que estão sustentando o otimismo dos investidores.
Às 13h41, o benchmark do mercado acionário brasileiro operava em alta de 2,09%, aos 74.599 pontos. Na semana passada, o índice chegou a superar o maior fechamento de sua história (73.516 pontos em 20 de maio de 2008) durante o intraday, mas não conseguiu sustentar o nível. O dólar comercial, por sua vez, amenizou as perdas, recuando no mesmo horário 0,14%, para R$ 3,0901 na venda.
Nesta sessão, o índice acompanha o maior apetite a riscos visto nos mercados internacionais e a revisão de perspectivas dos especialistas sobre o desempenho da economia neste ano e no próximo, além da volta da reforma da Previdência ao discurso do governo e figuras importantes do mundo político. Confira os motivos que levaram o Ibovespa para sua máxima histórica:
Desde que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou a investigação da delação dos empresários Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, o mercado tem entendido que as chances de a pressão contra o presidente Michel Temer por conta de uma nova denúncia caíram bastante.
Com a prisão dos executivos durante o final de semana, a avaliação é que Janot perdeu força para apresentar a denúncia contra o peemdebista. Caso isso ocorra nesta semana – a última do procurador no cargo -, a tendência é que seja derrubada facilmente na Câmara. Além disso, há quem acredite que Janot pode até desistir de entregar a denúncia.
Previdência de volta
Do lado das articulações do governo, o tema "Reforma da Previdência" volta a ganhar forças. Embora se saiba que ainda não há o mínimo de votos necessários para a PEC ser aprovada em primeiro turno no plenário da Câmara, o mercado volta a se animar com a chance de aprovação, mesmo que de uma reforma "diluída". No final da semana passada, Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados) já disse que dará prioridade às negociações para que a reforma seja votada em outubro.
Já neste final de semana, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles reforçou o tom otimista após almoço com Temer no Jaburu, dizendo que o governo decidiu "retomar com ênfase a reforma da Previdência". Segundo ele, a ideia é que a reforma seja votada no próximo mês, e se isso realmente acontecer, o governo já irá começar a focar suas atenções na reforma tributária.
Harvey e Irma podem mudar os planos do Fed
No exterior, a perda de força do furacão Irma traz otimismo de que os estragos serão bem menores do que o esperado. Além disso, a Coreia do Norte não realizou testes, o que também alivia os investidores. Mas o ponto principal é a consequência da passagens dos furacões pelos Estados Unidos, que podem mudar os planos do Federal Reserve.
O Harvey e Irma elevam as dúvidas sobre o ritmo de recuperação da economia dos EUA, o que está afetando o mercado de câmbio nesta segunda. Segundo William Dudley (do Fed NY e vice-presidente do FOMC), "será muito difícil ler os dados econômicos nos próximos meses porque será difícil saber exatamente quais serão os dados em o impacto desses furacões".
"É possível que estes furacões gerem efeito no timing de alta da taxa de juros de curto prazo", disse Dudley, em um sinal claro que de o Fed pode não elevar as taxas novamente este ano, como estava previsto até agora.
Confira ao que se atentar no pregão desta segunda-feira:
Do lado do mercado de juros, os contratos futuros de DI com vencimento em janeiro de 2018 caíam 1 ponto-base, a 7,65%, ao passo que os papéis com vencimento em janeiro de 2021 subiam 1 ponto-base, a 8,94%. Já os contratos futuros do dólar com vencimento em outubro operavam próximos da estabilidade, sinalizando cotação de R$ 3,096.
Conforme pontua Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset Wealth Management, com o enfraquecimento do furacão Irma fazendo bolsas, petróleo e yields avançarem no exterior, há um efeito-carona do mercado brasileiro. Também no exterior, vale destacar o comportamentopositivos dos metais em resposta aos dados de produção da economia chinesa e o alívio em meio à tensão norte-coreana.
Destaques da Bolsa
Do lado acionário, os papéis da Vale (VALE3; VALE5) seguem o movimento do minério de ferro à vista e sobem nesta sessão. Hoje, a commodity à vista negociada no porto de Qingdao, na China, subiu 0,68%, a US$ 78,39 a tonelada. Por sua vez, os contratos futuros do minério cotados na bolsa chinesa de Dalian caíram 2,20%, a 534 iuanes.
O movimento também é acompanhado pelas ações das siderúrgicas. Entre elas, destaque para a CSN (CSNA3), que subiu nos últimos dias com crescente rumor de reajuste do preço do aço. Essa é a sétima alta seguida da ação da siderúrgica, que acumula no período ganhos de 20%. Uma fonte da empresa disse hoje à S&P Global Platts que a empresa está planejando realizar o reajuste e que deve ser de 10,25%, válido a partir de 1 de outubro. "Se as outras siderúrgicas seguirem esse novo ajuste, haverá uma maior probabilidade de ser mantido", disse uma outra fonte, que acrescentou que o ajuste é mais provável de ser absorvido se os preços da China permanecerem estáveis, assim como a taxa de câmbio.
As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) se descolam dos preços do petróleo e sobem nesta sessão. Em Londres, os contratos do petróleo tipo Brent caíam 1,08%, a US$ 53,20 o barril, enquanto os contratos do WTI, negociados em Nova York, recuavam 0,44%, a US$ 47,27 o barril.
No radar, a estatal firmou uma parceria com a Shell Exploration Company de "colaboração mútua de longo prazo, com foco operacional, em ativos nos quais as duas empresas atuam em parceria", informou em comunicado ao mercado assinado pelo presidente Pedro Parente e por Ben Van Beurden, CEO da Shell. Segundo o texto, o "objetivo principal do memorando é o compartilhamento de experiências e melhores práticas, visando redução de custos nas atividades de construção de poços, logística e segurança de aviação”.
Como parte do acordo, será formado um comitê de representantes de ambas as empresas, visando avaliar conjuntamente atividades que permitam o desenvolvimento contínuo de processos operacionais. Atualmente, Petrobras e Shell são parceiras em 10 consórcios de exploração e produção, sendo cada uma operadora em 5 blocos, segundo o comunicado.
Ainda no noticiário da estatal, destaque para um acordo firmado com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) pela Liquigás para encerrar as investigações sobre um cartel formado no mercado de distribuição no Nordeste e no Distrito Federal. A companhia aceitou pagar R$ 65,6 milhões de reais como compensação.
Relatório Focus
Mais otimismo foi visto nas projeções dos economistas consultados semanalmente pelo Banco Central. Na mais recente edição do Relatório Focus, a mediana das expectativas apontou uma elevação no PIB (Produto Interno Bruto) de 0,50% para 0,60% neste ano e de 2% para 2,10% no ano seguinte, ao passo que as apostas para a inflação oficial caíram de 3,38% para 3,14% em 2017 e de 4,18% para 4,15% em 2018.
Do lado da Selic, as expectativas foram de 7,25% para 7% neste ano e de 7,50% para 7,25% no ano seguinte. Com esses números, a taxa real de juros 'ex post' ficaria, respectivamente, em 3,86% e 3,10% nos dois períodos. Pelo câmbio, não houve alteração nas projeções: R$ 3,18 e R$ 3,30 para o dólar em 2017 e 2018.
Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado "top 5" –, no cenário de curto prazo, as projeções para a inflação caíram para 3,01% neste ano (0,3 ponto percentual abaixo da última estimativa) e 4,02% no ano seguinte (0,2 ponto percentual abaixo das projeções da semana anterior). Pela Selic, as duas avaliações continuaram em 7%. Do lado do câmbio, as expectativas para o dólar recuaram de R$ 3,25 para R$ 3,20 em 2017, e de R$ 3,35 para R$ 3,43 em 2018.
Indicadores da semana
O grande destaque da agenda fica com a ata da última reunião do Copom, que sairá na terça-feira (12) às 8h. Após mais uma redução de 100 pontos-base na Selic, que agora está em 8,25% ao ano, analistas tentam confirmar os próximos passos da autoridade, que já deixou claro o início da redução do ritmo de cortes a partir do próximo encontro, em outubro. Com mais duas reuniões em 2017, o mercado trabalha com projeção de que a Selic termine dezembro em 7,0% ao ano, o que será seu menor patamar da história.
Ainda no Brasil, será divulgado o resultado das vendas de varejo de julho na terça-feira (12) e o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), na quinta-feira (14), às 8h30, considerado uma prévia do PIB. Projeção da Bloomberg aponta que este indicador deve recuar 0,10% entre junho e julho. Por outro lado, a Rosenberg destaca que "com a indústria e o comércio crescendo na comparação interanual e queda menor dos serviços, esperamos continuidade da melhora do índice" no acumulado de 12 meses.
Na agenda internacional, teremos dados de inflação nos Estados Unidos, com o PPI na quarta-feira às 9h30 e o CPI na quinta no mesmo horário. A inflação tem sido o principal ponto de análise do Federal Reserve para decidir sobre sua política de alta de juros. Vale lembrar que o mercado não trabalha com chances de altas de juros por lá neste ano.
A China é outro ponto de atenção, com dados de atividade, como produção industrial, vendas no varejo. Na última semana, tanto os indicadores de manufatura quanto os dados de inflação vieram mais fortes do que o esperado, mostrando que o gigante asiático continua em sólido ritmo de crescimento.
Prisão de Joesley e Saud
Os desdobramentos das reviravoltas no acordo de delação premiada firmado com executivos do grupo J&F voltam a movimentar a semana na política, com Joesley Batista e Ricardo Saud cumprindo prisão temporária, por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que recusou o pedido de prisão do ex-procurador Marcelo Miller, feito pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Enquanto se especula sobre o risco de anulação de provas obtidas, movimento patrocinado pela própria defesa do presidente Temer, outros se esforçam em separar a omissão de informações por parte dos executivos ou qualquer erro de conduta de Miller da validade das provas.
A última semana de Janot no cargo também deverá contar com a apresentação de uma nova denúncia contra o peemedebista, após denúncias contra membros do PMDB da Câmara e Senado. Outros partidos, PT e PP, também foram denunciados por formação de organização criminosa. As expectativas são de que a nova peça contra o presidente tenha efeitos limitados, por mais que conte com diversas delações, dentre elas do corretor de valores Lúcio Funaro. Também pode preocupar o governo a prisão de Geddel Vieira Lima, ocorrida na última sexta-feira. Aliado próximo a Temer, o ex-ministro é visto como figura instável, que pode abrir a boca. Janot ficará no cargo até 17 de setembro, e na segunda-feira (dia 18) Raquel Dodge assumirá a frente da PGR.
Mas os holofotes do front político ficarão com o novo depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro, na quarta-feira (13), no âmbito da ação penal que investiga se o petista recebeu propinas da construtora Odebrecht. A fala de Lula virá dias após Antonio Palocci dizer que o líder petista firmou um "pacto de sangue" com Emílio Odebrecht, que consistiria em propinas e outras vantagens indevidas.
Política
Na pauta de votações, teremos a possível retomada da análise da PEC 77/03, do deputado Vicente Candido (PT-SP), que altera o sistema para eleição de deputados e vereadores e cria um fundo público para o financiamento das eleições. Também está na pauta outra proposta da reforma política: a PEC 282/16, da deputada Shéridan (PSDB-RR), que altera as regras sobre coligações partidárias nas eleições proporcionais e cria uma cláusula de desempenho para acesso a recursos do Fundo Partidário e ao horário gratuito de rádio e TV.
Caso não haja acordo ou após vencidas as PECs, os deputados podem analisar a MP 783/17, que permite o parcelamento de dívidas com a União, tanto de pessoas físicas quanto pessoas jurídicas, concedendo descontos e possibilitando o uso de prejuízo fiscal e de base negativa da CSLL para pagar os débitos.
Fonte: InfoMoney