Jovens empreendedores renovam os rumos do mercado de trabalho
Com perfil questionador e agilidade para resolver problemas, a nova geração demonstra habilidade para montar seu próprio negócio
O processo de renovação é indispensável para o mercado de trabalho….
Com perfil questionador e agilidade para resolver problemas, a nova geração demonstra habilidade para montar seu próprio negócio
O processo de renovação é indispensável para o mercado de trabalho. Tanto em empresas com carreira consolidadas quanto para o surgimento de novas ideias, o pensamento de um jovem empreendedor tem mudado o rumo do mercado de trabalho. Com proatividade e agilidade para resolver problemas, a nova geração tem demonstrado, cada vez mais, habilidade para montar seu próprio negócio.
As aptidões começam a se desenvolver cedo na carreira dos empreendedores. Daniela Bello, 23 anos, de Porto Alegre, desde a adolescência customizava suas próprias roupas. Em 2008, quando o vestibular chegou, precisava escolher um curso superior e optou por Design de Moda na UniRitter. “Ganhei uma máquina de costura, comprei tecidos e fazia vestidos para minhas amigas. Fiz do que eu gostava a minha profissão”, comenta.
O primeiro atelier foi aberto em 2009, onde fazia roupas sob encomenda. Logo após, Daniela fez um estágio em uma fábrica que desenvolvia coleções para lojistas e percebeu que poderia criar suas coleções próprias. Foi quando surgiu a marca de roupas femininas Dani Bello. “A primeira coleção foi no inverno de 2010. Depois comecei a receber pedidos pela internet. Ficamos mais conhecidas através do Facebook e das indicações. Agora estamos na sexta coleção, com três de inverno. Atendíamos três lojas e agora já são vinte”, conta a estilista.
Com o desenvolvimento da marca, que em três anos teve um crescimento de 567%, Daniela aposta cada vez mais em suas criações e trancou o curso na Universidade. A nova coleção para o verão é prova do trabalho: se antes Daniela pensava em 30 peças, dessa vez pesquisou ainda mais e criou 50. O lançamento será ainda em junho de 2012.
Percebendo oportunidades
O administrador Roberto Soraire também começou cedo. Sua primeira ideia foi o site Surra, especializado em esportes radicais. Logo após, em 2004, montou a agência FW:6, que desenvolvia ações diferenciadas para divulgação. Vendeu a agência, morou dois anos na Europa e voltou para Porto Alegre, quando ingressou na área de marketing do escritório Paulo Afonso Pereira Propriedade Intelectual, empresa especializada na gestão estratégica de proteção de marcas e patentes.
“No escritório o processo consiste em um cliente solicitar uma marca e ver se ela está disponível para registro no INPI. A Paulo Afonso Pereira, então, assessora esse cliente sobre a disponibilidade e aconselhava a mudar caso o registro não fosse possível. Uma das funções do marketing é analisar o mercado da propriedade industrial e uma das métricas era de quantos clientes não conseguiam registrar suas marcas, número que chega a 80%. Sugeri, então, que se criasse um setor no escritório que desenvolvesse marcas para uma solução alternativa e que não dariam problemas para os clientes. Mas o chefe entendeu que fugia da atividade fim da empresa e não aceitou. Conversei com meu primo e, juntos, montamos uma empresa de gestão e criação de marcas”, detalha Soraire.
Foi assim que, em outubro de 2010, foi lançada a Serial N, empresa de comunicação que analisa e verifica as questões legais de disponibilidade (INPI ou mundo) e mercadológicas (essa segunda com sondagens no mercado para possível aceitação) e cria alternativas para novas marcas. Enquanto Soraire, formado em administração com ênfase em marketing pela ESPM, é responsável pela proteção da marca, seu primo publicitário trabalha na parte de design e criação de logomarcas. Um dos exemplos mais significativos do sucesso da empresa é o ZOMAX, tecnologia da marca Olympikus e que foi o tênis mais vendido no Brasil em 2011. “Com isso, conseguimos ter a convicção que a união de comunicação social e propriedade industrial no mesmo ambiente daria certo. Hoje temos contrato com o Grupo Azaleia para a criação de marcas exclusivas”, comenta Soraire. A empresa hoje conta com oito colaboradores e faturou cerca de R$ 800 mil em 2011.
O perfil do empreendedor
Segundo Gustavo Borba, diretor de graduação da Unisinos, o empreendedor nasce com habilidades características, mas o acesso mais fácil à informação tem colaborado para que surjam novos casos de sucesso entre os jovens. “O jovem que quer ir adiante tem esse diferencial que não existia há vinte anos”, comenta.
Criar novos negócios ou melhorar os já existentes
A postura do empreendedor demonstra uma proatividade muito forte, com capacidade e vontade de resolver problemas bastante acentuados. Para Borba, os jovens empreendedores são alunos muito questionadores, com percepção crítica e sem medo de correr riscos. “O que resume hoje a formação desses profissionais é uma visão mais sistêmica do negócio e a vontade de questionar o tempo todo”, completa.
No entanto, o diretor explica que jovens empreendedores podem tanto criar negócios quanto melhorar os já existentes. Grandes empresários muitas vezes buscam profissionais que questionem o negócio e queiram acrescentar na mudança.
“O mercado aquecido permite que a gente enxergue o empreendedor porque ele precisa aparecer mais para ganhar espaço. Momentos de crise são importantes para que esses perfis se sobressaiam”, conclui.
Chefes jovens
As responsabilidades são grandes para quem responde para o próprio negócio. Afinal, além de administrar a vida profissional e pessoal, os jovens são questionados sobre experiência em gestão. “Existe uma certa resistência quando se fala em um jovem empreendedor, mas é uma questão de modelo mental do que idade. Empresários com grande trajetória procuram novas ideias e profissionais. Mas o preconceito é um fato”, comenta Borba.
“Acho bom ser chefe, principalmente por ter dado certo. É aquela questão: meus problemas não acabam no trabalho. Saio do trabalho e eles me acompanham. Trabalho 24 horas por dia. Estou sempre ligado em oportunidades e ameaças no mercado. Às vezes tenho dificuldade de fechar negócio com grandes empresas, mas me destaco ao demonstrar total conhecimento na questão da propriedade industrial”, comenta Soraire. Outro ponto importante do negócio é a gestão de pessoas. “Se eu não cumpro um horário é difícil de dar exemplo e os colaboradores entenderem. Lidar com pessoas não é fácil”, completa. Daniela também percebe muita diferença em ser sua própria chefe. “Eu vivo para a marca. Agora tenho estagiários, mas ainda vivo para ela. Estou mais responsável, mais adulta, mais realizada”, enfatiza.