Lojistas cobram mais transparência
Lojistas reclamam de falta de acesso aos reais custos da administração do shopping Diamond Mall, da capital.
As paredes de granito do shopping mais elitizado da capital escondem mais segredos que esfregões…
Lojistas reclamam de falta de acesso aos reais custos da administração do shopping Diamond Mall, da capital.
As paredes de granito do shopping mais elitizado da capital escondem mais segredos que esfregões de limpeza, estoque e restos das decorações de Natais passados. Segundo consta nos documentos exibidos por força da ação cautelar, os reais custos da administração do Diamond Mall sequer chegam ao alcance dos lojistas, que não aprovam e tampouco têm oportunidade de estudar ou examinar as contas que pagam. Ao longo de uma década, detectou-se que as propostas orçamentárias anuais foram aprovadas “por unanimidade” por um único indivíduo, César Antônio Rodrigues Lopes, que se intitulava representante da Associação dos Lojistas. Mas a perícia constatou que, na verdade, César Lopes, era diretor da Área de Controladoria da Multiplan. E que não existia nenhuma procuração dos lojistas para representá-los nas reuniões, nas quais ele também respondia pelo Diamond e pela Multiplan.
Causou estranheza ainda aos auditores a apresentação de uma série de “atas arranjadas”, entre 1996 e 2002. Segundo o processo, pelo tipo de texto, centralização idêntica dos cabeçalhos e cor das canetas usadas, há indícios de que as atas foram digitadas e assinadas em um só momento, apesar das diferenças nas datas dos documentos. Das 24 atas analisadas, de novembro de 1996 até o mesmo mês de 2006, não constou nenhum edital de convocação de lojistas para as assembleias.
Além de não terem conhecimento sobre os orçamentos aprovados nas reuniões onde não estavam presentes e nem representados, os lojistas ainda eram obrigados a pagar taxa de administração de 5% sobre os custos. “Considerando que a taxa de administração é cobrada sobre o total das despesas, os administradores não tinham qualquer estímulo para enxugar custos”, afirma uma fonte, que pede para se manter no anonimato.
Um exemplo da falta de interesse na redução dos gastos pode ser visto na contratação da Dalkia do Brasil, especializada na prestação de serviços de manutenção das instalações, limpeza, paisagismo e coleta de lixo, entre outros. Segundo o Sindilojas, a terceirização do serviço foi alardeada na época com o propósito de reduzir custos operacionais para lojistas. Só a manutenção predial, porém, saltou 639%, entre 1999 e 2002, conforme perícia feita nos livros contábeis do Diamond Mall. Os gastos com os serviços subiram de R$ 262,2 mil para R$ 1,9 milhão, no período. Ao todo, a soma simples das parcelas apresentadas a maior pela Dalkia no período atingiram R$ 3,46 milhões. “Até mesmo um administrador zeloso pode errar ao tomar decisões, mas esse erro pode se repetir por duas ou três vezes e não durante os nove anos que se seguiram sem voltar atrás”, afirma a fonte.
A compra de tapetes persas ao custo de R$ 61,5 mil também chama atenção, uma vez que o pagamento dos mesmos foi feito mediante adiantamento do dinheiro aos empreendedores ao Diamond, o que resultou na cobrança de juros de R$ 41,7 mil, mais taxa de administração. Sem falar que os tapetes foram usados por um curto período de tempo.
A auditoria mostrou que parte das cobranças consideradas irregulares são referentes aos custos da administração e mesmo com o pessoal dessa área do shopping, que alcançaram a cifra astronômica de R$ 10,9 milhões no período. Segundo o documento, a administração do Diamond ocupa uma área de 604,5 metros quadrados e consome luz, água e ar refrigerado. Porém, “nada paga por esses itens que são suportados pelos lojistas, sempre acrescidos de 5% de taxa de administração.” Até material de escritório, máquinas de xerox que não podem ser usadas pelos comerciantes e salários de funcionários são previstos nos valores cobrados a títulos de taxas de condomínio.
E mesmo carros, a princípio comprados para uso do condomínio, com valores lançados como imobilizados e cobrados dos lojistas foram, “estranhamente”, doados para gerentes. Um Ford KA que custou R$ 15,5 mil foi envolvido em acidente com perda total e o dinheiro do seguro não retornou ao condomínio. Um Pólo Classic, de R$ 26 mil, e um Renault Clio de R$ 22,5 mil, foram doados a duas funcionárias da administração do shopping. A doação foi feita por Durleno Rezende, que na época era superintendente do Diamond e hoje está à frente da Superintendência do BH Shopping.
Segundo as conclusões da perícia feita junto aos documentos do Diamond Mall, ficaram constatados repetidos atos para desequilíbrio econômico, com autorização de contratação de empréstimos sem justificativa e cobranças duplas, em cascata e sem critério da taxa de administração de 5%, “que na realidade chegou à média de 14,44% de 2003 a 2007.”
Na ação, os lojistas restringiram a exibição de documentos apenas relativos às taxas de condomínios. Não foram levados em consideração os aluguéis cobrados pelo shopping, uma vez que são previstos em contratos individuais com os lojistas, nem a arrecadação com estacionamento.