Mestre das passarelas
Com 45 desfiles na bagagem, o estilista Ronaldo Fraga é um dos mais conhecidos do Brasil e foi palestrante na 6a edição da FBV. Na última São Paulo Fashion Week, o mineiro trouxe o desastre de Mariana para a passarela, e na anterior contou com um casting composto somente por modelos trans, tomando a passarela com importantes temáticas sociais
Com 45 desfiles na bagagem, o estilista Ronaldo Fraga é um dos mais conhecidos do Brasil e foi palestrante na 6ª edição da FBV. Na última São Paulo Fashion Week, o mineiro trouxe o desastre de Mariana para a passarela, e na anterior contou com um casting composto somente por modelos trans, tomando a passarela com importantes temáticas sociais. Confira a entrevista exclusiva realizada com o estilista para a revista Conexão Varejo.
> Para você, qual o papel da moda?
A moda tem funções muito importantes, e uma delas é a de documento eficiente do tempo. Algumas pessoas acham que a moda faz o tempo, mas, na verdade, ela sinaliza o momento, pois é um reflexo do tempo vivido. Da mesma forma que podemos entender séculos passados por meio da arte, a moda também sinaliza o desejo de uma época. Acredito que esse é o lugar da moda e esse papel vai continuar sendo a chama desse importante vetor.
> Como define a moda que você cria?
Tem muita influência na minha formação, que inclui a Escola de Belas Artes, onde estudavam artistas, já que não haviam escolas de moda. Eu sempre tive um olhar sobre a moda menos ‘ensimesmado’, buscando dialogar com outras frentes. A moda que eu faço é algo que se liberta e extrapola a roupa, e quando isso ocorre ela se torna um bem de utilidade pública e um alento de reafirmação cultural e autoestima.
> Quais os objetivos de levar problemas sociais para as passarelas?
A moda é um dos vetores com maior mídia espontânea no Brasil, só perde para o futebol. Pensando nisso, é nossa obrigação como integrantes desse mercado falar de coisas que vão além da roupa e das tendências. Quem fez isso muito bem foi a Zuzu Angel, que denunciou a tortura nos porões da ditadura militar para o mundo por meio da moda.
> Que aprendizados a loja Grande Hotel Ronaldo Fraga traz sobre o varejo?
Esse formato surgiu para destacar a experiência e a humanização dos processos. Precisávamos deixar de olhar só para nós mesmos, para o produto, pois à medida que a sociedade evolui as pessoas entendem que não precisam de dez pares de tênis. O produto não é mais protagonista. O Grande Hotel foi uma aposta de ir contra a corrente. É um local que se transforma o tempo inteiro.
> O que significa dizer que o genuíno é o novo luxo?
Passada a euforia da globalização, que sempre traz um risco de tornar tudo muito igual, vemos que o novo luxo é o genuíno porque só está em determinado lugar. É o que me faz querer vir para Porto Alegre para ver o que só tem aqui, atravessar continentes para ver o que só tem em certo país. E na moda isso está muito presente.
> De que forma você enxerga o gaúcho em relação à moda?
De certa forma o gaúcho é parecido com o mineiro, porque tem um apreço à tradição e um perfil conservador. E é só com essa combinação que nasce o moderno, pois é um terreno fértil para a contestação. O gaúcho surpreende por isso, como os movimentos de rock que aconteceram aqui nos anos 80, que só podiam ter acontecido em meio à tradição.
> Qual tua avaliação sobre eventos como a FBV para desenvolver o setor?
Acho que é muito importante dar acesso para as pessoas a discussões como essas, que têm como foco o ato de repensar o varejo para o futuro. É uma oportunidade única, assim como poder ter acesso ao olhar individual de cada palestrante e acessar novas histórias. Isso inspira!
“Varejo humanizado é aquele que traz histórias, afeto, que tem uma ‘cara’ própria e envolve as pessoas. Humanizar processos é trazer ‘sabores’ para as coisas, que não seja o que todo mundo já faz.”
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