Microfranquias ganham espaço entre empreendedores da Classe C

SÃO PAULO – Imagine um negócio sem a necessidade de um escritório, em que você não bata o cartão ponto, e que os rumos e rendimentos dependam exclusivamente do seu esforço e capacidade de gestão, ainda…

SÃO PAULO – Imagine um negócio sem a necessidade de um escritório, em que você não bata o cartão ponto, e que os rumos e rendimentos dependam exclusivamente do seu esforço e capacidade de gestão, ainda que você não tenha investido vultuosos recursos. Essa é a realidade de centenas de brasileiros que trocaram a estabilidade da carteira assinada por um negócio individual, com o respaldo de uma marca nacional: as microfranquias. Em geral, o que caracteriza uma microfranquia é o investimento mais baixo do que o demandado por redes de maior porte – são valores inferiores a R$ 50 mil – e a flexibilidade para gestão, organização e operacionalização do negócio. Soma-se a isso, o perfil desses empreendimentos que, em geral, não requerem grande estrutura de máquinas ou mão de obra. Este perfil de investimento está chamando a atenção da Classe C, que cresceu expressivamente nos últimos anos no Brasil. “E há espaço para que as microfranquias continuem crescendo, se levarmos em conta o desenvolvimento da renda e o próprio crescimento do franchising. É uma forma desse pessoal, que não costuma ter expertise em gestão, entrar em algo regulamentado e formal, assistido por uma estrutura, marca e sistema de gestão”, analisa a consultora em franquias da Bittencourt Consultoria, Cláudia Bittencourt. Foi acompanhando as particularidades de quem precisava ou desejava empreender – mas não dispunha de bons volumes de recursos ou conhecimento em gestão – que os empresários Artur Hipólito e Marco Imperador começaram, em 2009, um negócio de franquias de baixo custo. A rede Tutores permitia que empreendedores usassem uma marca, contassem com treinamento e suporte para um negócio de reforço escolar.

Aprendizado de casa

“Na época, minha filha tinha uma dificuldade de aprendizagem e percebi que não havia nada estruturado neste sentido, alguém que cuidasse do processo de aprendizado de seu filho”, conta Artur Hipólito, que antes de trabalhar com microfranquias, atuou na gestão de uma rede de escola de idiomas. O negócio deu certo. A Tutores atingiu rapidamente a marca de 100 franquias distribuídas pelo País, o que inspirou a constituição da Zaiom Brasil Franquias, com quatro novas redes: a Home Angels, voltada para o cuidado de idosos, a Doutor Faz Tudo, de serviços gerais como encanadores, eletricistas e pintores, a Amigo Computador, de manutenção de computadores e redes, e a Dr Jardim, de manutenção de piscinas e jardins – todos modelos de negócio seguindo a lógica do baixo volume de recursos aplicados com rendimento altamente ligado à dedicação do próprio empreendedor. No próximo mês, outras duas bandeiras de negócios estão sendo erguidas no império das marcas de microfranquias da Zaiom: a Home Depil, de fotodepilação em domicílio, e a Globish, de ensino de inglês. Hoje, a Zaiom conta com mais de 470 franqueados e como abre cerca de 15 novas unidades todo mês, espera chegar a aproximadamente 580 franquias até dezembro. Grande parte dos empreendedores tem na microfranquia sua primeira experiência como gestor. “Muitos dependem do negócio para sobreviver, já que passa a ser sua única fonte de renda”, define Hipólito.

Esforço individual

A dedicação individual é que determina o faturamento ou o potencial de crescimento de cada unidade, segundo o franqueador. Isso porque, tanto o tempo, quanto a forma de divulgação, prospecção e dedicação são muito variáveis entre os empreendedores. “Na média, o tempo demandado para recuperar o investimento é de 12 a 18 meses, mas cada operação tem um perfil. Temos franqueados da Home Angels hoje faturando R$ 45 mil”, conta o franqueador. A consultora Claudia Bittencourt identifica na venda dos serviços uma das principais dificuldades para os “marinheiros de primeira viagem” no setor de microfranquias. “Como muitos são empreendedores por necessidade e falta competência técnica para empreender, cabe ao franqueador um papel ainda mais relevante de prestar este suporte e sustentar a gestão da empresa”, aponta. Como grande parte dos franqueados desses pequenos empreendimentos trabalha com base na própria residência, a consultora alerta para necessidade da disciplina, sob risco de comprometer a gestão do negócio. “É claro que existe a vantagem de não contar com o custo de aluguel, mas é necessário administrar o tempo para se dedicar ao negócio, saber separar as questões ligadas à casa e aos filhos, por exemplo, para que se mantenha um determinado padrão de profissionalismo”, recomenda.

Modelos

Hipólito acrescenta que a falta de visão de gestão de muitos empreendedores também está ligada, muitas vezes, à passagem desses empreendedores por modelos de empresas de médio e grande porte, que se transformam em esteriótipos de referência para sua gestão na microfranquia. “Primeiro que o senso comum é de que a empresa é uma sala, um endereço, não um sistema de inteligência, gestão e forma de fazer. Outro problema é a questão do marketing, já que muitos novos empreendedores pensam na questão da imagem e marca inspirados em modelos prontos”, relata o franqueador. Para Hipólito, a melhor opção para divulgar e tornar conhecidas as empresas de microfranquia é o marketing de guerrilha – quando as empresas que têm recursos financeiros mais limitados exploram ao máximo sua divulgação criando campanhas para gerar repercussão ou ganhando espaço em meios mais formais de forma indireta. “É preciso ficar atento à realidade onde a empresa atua, seu segmento, seu público potencial, para otimizar os recursos disponíveis para marketing”, lembra Hipólito. Não é a toa que a ABF (Associação Brasileira de Franchising criou neste ano) criou neste ano uma diretoria específica para o segmento de microfranquias. A previsão da associação é que as atividades de microfranquia cresçam 20% este ano, e o número de marcas, que hoje está pouco acima de 50, deva experimentar rápida expansão. Hipolito foi nomeado diretor-adjunto da nova organização.

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