Novos investimentos para o Centro

Empresários do varejo estão redescobrindo o Centro de Porto Alegre. Investimentos que se multiplicam por ruas, ladeiras e galerias buscam agregar à região o conceito de shopping a céu aberto.

Tudo porque os novos ambientes dos estabelecimentos, entre lojas que reabrem em antigos pontos e outras que estreiam em posições renovadas, seguem padrão semelhante aos centros comerciais situados em bairros. Com isso, recuperam prestígio e atração sobre um público que fugiu da região a partir da metade dos anos de 1980.
A recente desocupação de ruas e da Praça XV pelos camelôs sacramentou a certeza dos empresários de que não há mais volta na revitalização. Até a crise econômica, que paralisa investimentos, registra comportamento inverso no Centro. A expansão de negócios é comprovada pelo jovem proprietário da loja Scotsman, de confecção masculina, Stenio Soares. Ele não conheceu os tempos de ouro do comércio da Rua da Praia, mas a grife, que pertenceu à família da mulher, sim. Por isso, Soares, 29 anos, não esconde a ansiedade e controla, no relógio, o tempo que falta para a abertura da primeira filial, sob sua gestão, no endereço onde a marca começou a funcionar há mais de 30 anos.
No próximo dia 24, a Scotsman abre as portas na esquina da Rua da Praia com Vigário José Inácio, onde operou até 1998. “”Quando soube que o ponto ia desocupar, corri para falar com o dono do imóvel. É a esquina mais valorizada do Centro””, justifica o jovem empresário. A notícia da inauguração se espalhou. Clientes novos e antigos, comerciantes e fornecedores não param de ligar para saber da estreia. A abertura terá evento especial. O lojista encomendou projeto especial para os 110 metros quadrados. A fachada terá intervenção mais limitada, com cores da Escócia – que inspira o nome da loja, devido a restrições de edifício e de normas municipais. O mix de produtos será ampliado, o que inclui camisaria, calças e blazers. “”Estilo mais despojado e alto esporte, para público classes B e C””, adianta. Soares aposta que pessoas que não vinham mais ao Centro vão retornar na atual fase. “”Estarei aqui pronto para atender. Quem não se preparar para essa onda vai quebrar””, previne.
O que transforma a Rua dos Andradas, a popular Rua da Praia, e seu entorno em objeto de desejo do varejo é o fluxo de consumidores, considerado imbatível, assegura Soares. Foi o que levou o diretor da rede Rabush, com 14 lojas na Capital, Alcides Debus, a inaugurar, em dezembro passado, a filial na Rua dos Andradas, entre a Avenida Borges de Medeiros e a rua Floriano Peixoto, num prédio erguido em 1846. Foi o segundo ponto de rua no miolo do Centro em um ano e meio. O primeiro foi aberto na esquina das ruas Otávio Rocha e Vigário José Inácio.
A loja aberta em dezembro agregou linhas modernas, interna e externamente e chama a atenção de quem percorre a região. São dois andares de loja. Até o final do ano, será aberto mais um, com instalação de café, lounge e novas coleções. Com 300 metros quadrados, é a maior filial da rede, com 14 pontos, seis próprios. “”Estávamos sempre de olho no Centro, mas era arriscado. Com falta de segurança e freqüentadores de renda menor””, justifica Debus. Mas desde a saída dos ambulantes, o fluxo de clientes aos sábados aumentou 30%. O lojista chama a atenção para outro comportamento, que só quem vive o dia-a-dia na região pode perceber. “”Até o ritmo da caminhada mudou. As pessoas têm mais tempo para observar as vitrines””.
A transferência de camelôs da Praça XV para o Centro Popular de Compras (CPC) teve outro efeito: varejos reduziram a quantidade de seguranças em frente aos pontos. O gerente de uma das filiais da Loja do Aldo na praça Luciano de Bragança diz que o fluxo de clientes aumentou até 30%, desde fevereiro. Está nos planos da rede investir em remodelação. O efeito retratado pelos comerciantes é trunfo do secretário municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Idenir Cecchin. O secretário destaca que houve aumento do tíquete médio de vendas.
(por Patrícia Comunello)

Loja na Galeria Chaves ganha status das unidades dos shoppings
O dono da rede New Bijoux, Leonardo Kacman, avisa: “”Quem não vai ao Centro há um tempo não sabe como está a região””. A constatação é um convite também. Kacman abriu a primeira filial de rua da rede na Galeria Chaves, na esquina com a Rua da Praia, há três anos. O empresário espreitava o movimento de revitalização e sabia da intenção de remodelação, que ocorre hoje no interior da galeria, construída em 1930. Um investidor que comprou a área, em 2008, lidera a mudança. Kacman levou para a rua o mesmo design das quatro lojas da grife existentes em shopping centers.
O projeto da filial previu portas abertas, o que exigiu cuidado extra, mas sem interferir na relação com as clientes. Sutileza até na existência de seguranças. Kacman descreve que o perfil das frequentadoras acrescenta cada vez mais diversidade. “”Muitas mulheres que compram nas outras lojas vêm aqui””, informa. Com a restauração da galeria, que incluirá modernização de acessos e repaginação de demais negócios, o empresário espera ver confirmado o que ele previu em 2006. “”Um novo tempo para os negócios na região””. Com o fluxo e resultado em vendas, Kacman já equipara o resultado da filial ao das demais.

Arquiteto traça o roteiro da modernização na região
A modernização de um ponto comercial eleva entre 25% e 30% o faturamento. A constatação é do arquiteto Gilberto Sibemberg, especialista em projetos comerciais, com portfólio de mais de 200 intervenções em pontos de rua e que protagoniza a efervescência do varejo do Centro em 2009. Há 40 anos, quando o arquiteto abriu o escritório na Capital, a clientela de lojista era exclusivamente da região. Isso foi assim até o começo da década de 1980. “”O Centro era ponto de encontro, sede das redes e do comércio elitizado””, recorda.
Os primeiros sinais do esvaziamento vieram com a instalação desordenada de bancos, na Rua da Praia, bloqueada com a criação de uma lei. “”Banco não é comércio. Você não vê agências na área principal de shoppings, não é?””, explica. Foi uma combinação de ingredientes que deslocou investimentos para bairros – maior insegurança, surgimento de ambulantes, primeiros centros comerciais fora e preferência a itens populares nos estabelecimentos centrais.
A retomada de investimentos ocorre há cinco anos, com ações que tentam levar ao Centro o conceito de open mall (shopping a céu aberto). Sibemberg observa a mudança de mix, com inclusão de produtos que estão nos estabelecimentos de bairro. Ocorreram reformas das Lojas Renner, C&A, Pompeia e Marisa. “”Elas buscaram a classe média que trabalha no Centro e gasta na região””, conclui o arquiteto.
O escritório do profissional também sente os reflexos. Nos últimos três anos, forma mais de dez encomendas de remodelação de lojas e abertura de novos pontos de clientes. “”A linha é adotar o mesmo padrão da loja de shopping””, reforça. Pacote que inclui configuração interna para o consumidor acessar, sepultando o balcão, mix com mesmos itens de pontos de bairro, portas abertas e ambientes bonitos. “”O cliente se sente bem tratado e compra””, resume.
O arquiteto ressalta, porém, a importância de definir a ocupação na região onde estavam os camelôs na Praça XV. A associação da recuperação comercial com o patrimônio histórico que caracteriza o Centro é uma aposta de Sibemberg. “”Montevidéu está fazendo isso e com sucesso. As duas capitais são muito parecidas.””
O titular da Smic, Idenir Cecchin, avisa que a meta é revitalizar a praça, que incluirá o Chalé da Praça XV, acessos de ruas e o entorno do Mercado Público. Parte da área em frente aos estabelecimentos de frente para o Largo Glênio Peres ganhará um deck de madeira com mesinhas, a ser instalado em parceria com empresas privadas e com custo estimado de R$ 200 mil. O secretário diz que já há empresas interessadas, de segmentos de bebidas e cartões de crédito. A Praça da Alfândega conservará 34 barracas de artesãos. “”Vamos fiscalizar para assegurar que não tenha outra coisa.””

Mudanças no Chalé da Praça XV vão custar R$ 1 milhão
O Chalé da Praça XV está no cenário do Centro da Capital desde 1885. Agora os atuais permissionários preparam um novo ciclo para o espaço. O empresário Edemir Simonetti, sócio da rede de alimentação Variettá e que está à frente do Chalé há sete anos, deve investir mais de R$ 1 milhão nas mudanças, que incluirão reformulações na ocupação do espaço e construção de um anexo, próximo à área dos antigos bondes – que abrigará a cozinha, hoje situada no segundo piso do restaurante. O anexo terá bar e restaurante com 300 lugares, além de cafeteria. Também haverá novo paisagismo e instalação de bancos na praça.
As ações e recursos integram aditivo do contrato de permissão, que será assinado no dia 12 com a prefeitura e acrescentará mais cinco anos na utilização comercial. “”O prazo maior cobrirá o novo investimento””, justifica o empresário. Parte dos custos poderá ser abatida do aluguel atual e da área a ser erguida. Simonetti revela intenção de buscar inclusão da reforma em leis de incentivo à cultura.
A meta é começar as obras depois de julho, para coincidir com a revitalização prevista no entorno pelo programa Viva o Centro, coordenado pelo município. Uma licitação para executar melhorias nos acessos, lançada no final de 2008, não teve interessado. “”Duvido que hoje não tenha empresa da construção que não queira””, acredita Simonetti. Ele observa hoje a área em frente, sem os camelôs, com ar de vitória e de quem teve paciência para presenciar a desocupação. Sem o tumulto gerado pela ocupação desordenada, o empresário espera dobrar a clientela. “”Todas essas mudanças não fazem bem apenas para meu negócio, mas para toda a cidade””, valoriza.

Clientela de bairro e produtos mais sofisticados são aposta
Em seis meses, a rede Aduana, de moda masculina, abriu uma filial na Praça da Alfândega e reformulou ambiente interno e mix de produtos do ponto na esquina das avenidas Salgado Filho com Borges de Medeiros. São os ventos da revitalização do Centro que afugentam até a turbulência da crise econômica mundial, garante o diretor comercial da grife, Clayton Fernandes Neto. Ele adianta que investimentos na terceira loja de rua no Centro, situada na esquina da Dr. Flores com a Rua da Praia, ocorrerão em breve.
Neto descreve que a primeira atitude foi levar para os pontos o conceito das três filiais de shopping. “”Alteramos o acesso aos produtos e trouxemos marcas que não eram encontradas nestes pontos do Centro””, exemplifica. A loja, resume o diretor, ganhou mais sofisticação. O resultado é a atração de clientes de segmentos ligados à área pública que antes iam ao shopping para comprar. “”O morador de bairro também está voltando ao Centro, além de quem só trabalha na região””, diagnostica.
A Aduana assegura que está pronta para receber esse novo fluxo. Uma nova postura dos vendedores foi estimulada. Ou melhor, eles mesmos renovaram a motivação. Hoje é comum ver um cliente que chega ao meio-dia, no intervalo do trabalho, e depois recebe a visita no escritório para os ajustes de um traje, conta o diretor. A saída dos ambulantes, que disputavam a atenção de consumidores no acesso à loja, aumentou em 20% o fluxo. “”As pessoas não entravam. Filas de ônibus e bancas escondiam a fachada. Hoje está tudo mais liberado e mais tranquilo””, comemora Neto.

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