O Leão de papel se aposenta
A entrega do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) por formulário de papel, que acompanha o tributo desde a sua criação, na década de 1920, acabou. Cada vez menos utilizado desde o advento dos meios…
A entrega do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) por formulário de papel, que acompanha o tributo desde a sua criação, na década de 1920, acabou. Cada vez menos utilizado desde o advento dos meios eletrônicos, representou apenas 0,3% das 24, 6 milhões de declarações este ano.
A partir de 2011, o contribuinte fará a prestação de contas ao Leão apenas por internet e disquete, confirmou ontem a Receita Federal, ao anunciar as novas regras do imposto. O fim do formulário reforça a tendência de substituição do papel pela informação digital, um movimento que confere agilidade e segurança ao processo, a exemplo de outras iniciativas como a nota fiscal eletrônica, os processos judiciais eletrônicos e o Débito Direto Autorizado (DDA), que no ano passado começou a tomar o lugar dos boletos. – É um processo que só tem vantagens, traz agilidade e elimina erros humanos que poderiam ocorrer até na Receita no momento de transcrever as informações – diz o superintendente adjunto da receita no Rio Grande do Sul, Ademir Gomes de Souza, calculando que, das 1,85 milhões de declarações entregues este ano no Estado, menos de 0,5% chegaram por papel.
A idade e a pouca familiaridade com a tecnologia também deixaram de ser empecilho para acompanhar a evolução. Funcionária pública aposentada, Neiva Leite, 68 anos, resistiu até se despedir dos formulários em papel. Há dois anos, a porto-alegrense deixou de encaminhar a documentação para a Receita pelo correio e passou a declarar o IR com a ajuda de um escritório de contabilidade. –É muito mais prático, não tinha por que continuar fazendo no papel – diz Neiva, que mudou de procedimento juntamente com o marido.
A migração total para o meio eletrônico é natural e bem-vinda, entende Jaime Gründler, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Estado (Sescon). As transformações estão em curso também nas empresas, com a Escrituração Contábil Digital (ECD) começando a deixar no passado os livros contábeis. – É bom para o ambiente, ocupa menos espaço, e é mais rápido – sustenta Gründler.
A aposentadoria do preenchimento a caneta na folha, entretanto, não é vista como mais um prenúncio do fim do papel. Com 133 anos de história, a indústria gráfica Rotermund, de São Leopoldo, confia que a invenção chinesa datada da 105 a.C. tem de três a quatro gerações pela frente. – Apesar dos palms e dos computadores, as pessoas ainda gostam de escrever em cadernos e blocos porque é possível colocar setinhas, asteriscos, sublinhar, desenhar corações. O papel é o registro sentimental da informação – define Renata Rotermund, diretora da empresa e bisneta do fundador, lembrando ainda que o governo tentou acabar com o carnê do INSS, mas teve de voltar atrás.