Palestrante dá as dicas para quem busca colocação no mercado

Objetivo e simples, Max Gehringer é também prático. Depois de anos de trabalho em empresas multinacionais, acumulou experiências que o gabaritaram para virar referência quando o assunto é emprego e suas…

Objetivo e simples, Max Gehringer é também prático. Depois de anos de trabalho em empresas multinacionais, acumulou experiências que o gabaritaram para virar referência quando o assunto é emprego e suas variáveis. As dicas que dá são preciosas – e claras. Tanto que viraram um quadro no programa Fantástico, da Rede Globo.
O Diário Gaúcho aproveitou a visita de Max a Porto Alegre nesta semana, em que fez palestras aos associados ao Sindilojas, para propor a ele um desafio: que respondesse rapidamente as perguntas sobre o mercado de trabalho. Esperamos, com isso, ajudar a tirar as dúvidas que você tem, leitor! Aproveite.

1. O que é preciso, hoje, para conquistar uma vaga?
Max – Ter um bom currículo e conhecer uma pessoa que possa indicar você a um emprego.

2. A qualificação é fundamental para se obter um emprego?
Max – Sim, dependendo do emprego. Se você quer uma vaga técnica, não adianta ter três faculdades que não batem com a vaga. Tem que ter exatamente o que a empresa está procurando.

3. Concurso público é uma boa opção?
Max – É, para as pessoas que preferem a estabilidade ao risco de construir uma carreira.

4. É fundamental falar inglês ou espanhol para obter uma vaga?
Max – Somente inglês. Espanhol, não, porque quando um espanhol e um chinês estão discutindo negócios, que língua eles estão falando? Inglês.

5. O que não pode faltar na entrevista de emprego?
Max – Cada entrevistador, embora faça as mesmas perguntas, é diferente do outro. Então, uma coisa que recomendo e poucos candidatos fazem, devido ao nervosismo, é observar o contexto. A mesa, a sala, a maneira como o entrevistador está vestido, se tem algum objeto que permite a você perceber claramente que trata-se de uma pessoa conservadora – uma estátua, um quadro da avó. Assim, mostre a ele que você também é conservador.

6. Em entrevistas de emprego, muitas perguntas são sobre anseios do candidato e suas qualidades. Devemos expor nossa vida pessoal quando perguntam isso?
Max – Nem morto! Entrevista não é consultório de psicologia. Todas as respostas que o candidato dá têm, necessariamente, que se relacionar com a empresa ou com a função que ele vai executar. Então, entre no site da empresa, leia sobre a história, sobre números, o balanço. Procure na internet notícias sobre aquela empresa. Se o entrevistador ouve de um candidato: “eu quero trabalhar nessa empresa porque eu vi que nos últimos cinco anos os senhores cresceram quase 15% ao ano nesse setor”, vai admiti-lo na hora.

7. E isso não pode ser considerado uma atitude falsa do candidato?
Max – Eu não acho que quem se preparou, leu o site e juntou informações está sendo falso. Ele está dizendo a verdade. Talvez queira, na vida, ser piloto de avião, mas não é a hora de dizer. Mais tarde ele pensa nisso.

8. O que devemos responder quando nos perguntam sobre pretensões salariais?
Max – Uma faixa, não um número. E se eu sei para que cargo estou me candidatando, eu vou pesquisar sobre cargos e salários nos jornais para encontrar essa faixa. Do valor menor para o maior, tem que ter uns 30%, 40% de diferença no máximo. Se der um número só, complica tudo.

9. Ser um trabalhador temporário é vantajoso?
Max – A pessoa precisa conviver com a ideia de que será sempre um temporário. Mas, para mim, é um emprego como qualquer outro, mas mais móvel do que o efetivo. Depois de um tempo, a pessoa se acostuma, acaba sendo como um PJ (pessoa jurídica), que trabalha para si próprio. Depois de um ano, parece a melhor coisa do mundo, aí não se sente mais a diferença.

10. O temporário é uma boa porta para o emprego fixo?
Max – Eu acho mais fácil hoje arrumar um emprego como temporário do que como fixo.

11. O que é preciso para ser um bom trabalhador?
Max – Ter o respeito do chefe, dos colegas e conseguir resultados acima dos objetivos.

12. No primeiro dia de trabalho, o que o empregado deve fazer?
Max – Sempre dizer que está no melhor lugar do mundo e demonstrar muito agradecimento por aquela oportunidade. Nunca sugerir que algo possa ser feito melhor do que está. O período de experiência (90 dias) serve para a pessoa ganhar a confiança dos demais. Ela não está ali para demonstrar que é tecnicamente boa. Se não fosse, não teria conseguido o emprego. Aquele é o momento de ganhar confiança. Depois, ela vai ter a vida inteira para mostrar que é boa.

13. A pessoa deve ter em mente apenas o salário para se dedicar ao trabalho?
Max – Não, são três coisas: salário, ambiente de trabalho e possibilidade de promoção, perspectivas de médio prazo.

14. É possível ter pessoas desempenhando as mesmas funções com salários diferentes?
Max – Não. Legalmente, não.

15. As empresas estabelecem objetivos e exigem que os seus colaboradores cumpram todos. Isso é possível?
Max – Tudo está no tipo. Tem empresas cujos objetivos são difíceis, porém possíveis. Eu trabalhei em empresas que davam objetivos impossíveis. Isso era uma baita frustração, porque as pessoas conseguiam um objetivo e ganhavam metade do bônus. E era tudo que a empresa queria, só aquele objetivo. Aí eu acho ruim, estão enganando.

16. O que fazer para ser promovido?
Max – Primeira regra, em qualquer tipo de serviço, é ter o apoio do chefe. Então, não brigue com ele. Esse é o erro mais fundamental que qualquer pessoa pode cometer. E não brigar é também não falar mal, porque os banheiros são amigos do chefe, as paredes ouvem e contam tudo para ele depois.

17. Como devo proceder se quiser mudar de empresa?
Max – Não mude antes de ter outro emprego. É muito mais complicado conseguir uma vaga se a pessoa estiver desempregada, já que ela vai ter de responder à célebre pergunta: “porque você saiu do seu último emprego?”. Ela terá de dar um monte de explicações. O certo é ir para a entrevista dizendo que vai sair de uma empresa maravilhosa para uma ainda mais maravilhosa.

18. Eu pretendo abrir uma empresa, como faço?
Max – Faça o curso de empreendedor do Sebrae. É gratuito. Neles, além de pessoas que participam pela primeira vez, tem gente que abriu o negócio, quebrou e aí vai fazer o curso, antes de abrir pela segunda vez. Então, dá para trocar experiências com outras pessoas. A gente ouve elogios como “você é um ótimo vendedor”. Mas, para abrir uma empresa, você precisa ser um ótimo administrador, um ótimo financeiro, um ótimo monte de coisas.

19. Que cursos você indicaria para eu progredir na minha profissão de empregada doméstica?
Max – É preciso estudar finanças domésticas, culinária e alguma coisa que possa fazer como hobby, como artes manuais. Em um curso desses, você pode descobrir um negócio. Eu já vi muitas empregadas domésticas que, no começo, trabalhavam fazendo faxina e, aí, começaram a vender um croquetezinho para a vizinhança, para a festa de não sei quem e, de repente, a mulher está com oito lojas, o marido já pediu as contas e agora virou funcionário dela. Isso é mais comum do que parece. É uma arte que pode estar muito escondida.

20. A pessoa deve ter coragem para ir adiante, então?
Max – Pelo menos para tentar ir um pouco mais. Posso aprender tudo de cozinha sozinha? Não, é por isso que existem cursos de culinária. O Senac tem um monte de cursos desse tipo. A lista de opções, tanto para homens como para mulheres, é estupidamente grande. Você viu um curso com nome estranho, ficou curioso? Vai lá e faz. No mínimo você vai conhecer gente, vai tomar café de graça. Mas pode ser que você descubra alguma coisa na qual nunca tenha pensado.

21. Assumi há um mês um emprego em telemarketing mas quero pedir demissão. Isso pode manchar minha carteira de trabalho?
Max – Não. Quem está em telemarketing e quer pedir as contas, não se preocupe: peça. Essa é hoje a área no mercado de trabalho com maior rotatividade, deve estar em torno de 60%, 70%. Quem pediu as contas duas vezes por ano tá mais do que na média. É um belíssimo lugar para começar a carreira profissional, mas não é o lugar para ter uma carreira. É bom porque tem pressão, tem resultado, tem supervisor ali, perturbando o dia inteiro, tem dois minutos por hora para ir ao banheiro e tem que voltar correndo… Então, a pessoa aprende como o mundo funciona, mas não vai construir uma carreira ali dentro porque tem um supervisor para cada 80 pessoas, não é ali que você vai progredir.

22. Qual o momento ideal para pedir aumento de salário? Como fazê-lo?
Max – Nunca, não existe momento bom.

23. As mulheres são melhores gestoras do que os homens?
Max – Não necessariamente. Eu acho que as mulheres têm algumas características que, com a mudança do mercado de trabalho nos últimos 20 anos, se tornaram mais interessantes. Durante algum tempo, nós tivemos tempo suficiente para tomar uma decisão. Era possível juntar 80% dos dados que precisávamos para ter uma boa decisão. Hoje, o que a gente percebe nos gestores e nos altos executivos é que precisam tomar uma decisão com 30% dos dados e acertar em 99% dos casos. E isso é muito mais mulher do que homem, a tomada de decisão que tem uma parte técnica e outra puramente intuitiva. Homem não gosta de ser intuitivo.

24. Por favor, dê um exemplo.
Max – Reunião. Quem inventou a reunião? Não sei, mas foi um homem. Mulher não gosta de reunião. Mulher gosta de sair e resolver as coisas. Coloca cinco mulheres numa sala a fazer reunião, em dez minutos elas já saem com tudo decidido. Faz o mesmo com cinco homens, dez horas depois eles ainda estão lá, já discutiram tudo e ainda marcaram mais três reuniões porque não chegaram a um acordo. A mulher é muito rápida para decidir e não vê problemas em tomar uma decisão que ela acredita que esteja certa.

25. O que o jovem tem que fazer para conseguir uma vaga no mercado de trabalho?
Max – Regra básica: ter um curso técnico. O que está faltando no mercado são técnicos. Tem muito jovem com curso universitário que não consegue emprego porque a oferta é maior do que a procura. Algumas empresas estão abrindo escolas técnicas internas porque não conseguem encontrar os profissionais que precisam no mercado. Então, para o jovem que tem 15 anos e pensa: “vou pular o curso técnico porque daí eu ganho tempo”, isso não é verdade. Você vai perder tempo.

26. Em um estágio, mesmo sabendo que o contrato é temporário, vale a pena eu me empenhar?
Max – Vale. Primeiro porque, pelas estatísticas, aproximadamente 15% dos estagiários são efetivados. E, segundo, quando a gente fala em experiência anterior, o estágio é uma baita experiência. É preciso aproveitar o estágio para aprender o maior número de coisas possíveis. Oficialmente, não é emprego, é continuação do estudo. Mas, como experiência profissional, vale como um emprego.

27. Até que ponto o network (rede de contatos) é importante?
Max – Em algumas profissões, o network está se tornando mais importante do que o diploma, a saber: Psicologia, Direito. Existem muito mais formandos do que vagas no mercado. Então, a pessoa se formou numa boa escola, tem um bom diploma, mas o número de candidatos é tão grande que ela só vai conseguir uma vaga se conhecer alguém. Faça do seu professor um amigo, mantenha contato com ele. Professores são uma belíssima fonte de network, eles podem fazer recomendações a outras pessoas.

28. Como uma pessoa com mais de 50 anos pode obter colocação no mercado?
Max – Procure empregos adequados à idade em empresas que estão contratando pessoas nessa faixa etária. Muitas das reclamações que a gente ouve é de pessoas querendo que todas as empresas adotem uma norma de contratar quem tem mais de 50 anos. Isso não é algo que se possa impor ao mercado, é uma decisão de cada empresa.
29. Como não perder terreno para os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho?
Max – Atualize-se. E não ignore o jovem, não o desrespeite, embora ele sempre pareça meio bobão. As pessoas olham para o jovem e não dão muito valor – está usando piercing, tatuagem, aquelas camisetas. Porém, dentro daquela cabeça pode ter muita coisa. Então, não julgue pela aparência. Ele realmente é um grande concorrente. O que ele ainda não adquiriu é o equilíbrio necessário para usar o que sabe sem muita pressa, sem querer atropelar alguém. E, para o jovem, eu diria a mesma coisa: não é porque uma pessoa tem 40, 50 anos que enferrujou. Ela só desacelerou porque não precisa mais correr. Se os dois conversassem, seria uma maravilha.

30. Quais são as áreas de futuro?
Max – Eu tenho um pequeno arquivo que coleciono desde a década de 60 sobre tudo que sai de “profissões do futuro”. Nenhuma delas deu certo até hoje. Todas eram ótimas para o futuro, mas não se materializaram. A única profissão em que se previu que geraria empregos foi a informática. Hoje e nos últimos cinco anos, em relação ao número de formandos, as três áreas que mais empregam são administração de empresas, os ramos mais conhecidos da engenharia (civil, mecânica) e informática. E nada indica que não sejam as três que vão gerar emprego nos próximos cinco anos. A pergunta que o pessoal faz em relação ao futuro é “e se fosse engenheiro especialista em pré-sal?” Não vai precisar disso? Sei lá. Mas não é uma garantia de 100% que essa vai ser. Provavelmente sim, a primeira turma. Não sei se todo mundo que fizer isso vai ter emprego.

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