Produtos e serviços para pets se sofisticam e atraem consumidores

Com mais de 100 milhões de bichos de estimação, brasileiros gastam com acessórios e roupas

O gasto médio de uma família brasileira com seu cão em pet shops é de R$ 760 por ano, segundo a consultoria Gouvêa e Souza

Poucos setores da economia emplacaram um crescimento tão intenso nos últimos anos como o mercado pet. A venda de produtos e serviços para animais de estimação mais do que triplicou em seis anos. Com mais de 100 milhões de bichinhos para mimar, brasileiros deixaram de gastar apenas com ração e vacinas e passaram a desembolsar com acessórios, brinquedos e roupas. Nas pet shops, gastam muito dinheiro com banhos, tosa e tratamento de pelos.

Os motivos da paixão entre humanos e seus animaizinhos, cada vez mais evidenciada pelo consumo, são conhecidos: jovens casais imersos na carreira trocam seus planos imediatos de ter filhos pela companhia dos pets. À medida que as famílias passaram a migrar de casas para apartamentos, a necessidade de manter animais limpos e com conforto sugere gastos crescentes com itens como camas, arranhadeiras e até banheiros. Uma pitada adicional de apego em um mundo cada vez mais impessoal e está pronto o cenário para o consumo de itens cada vez mais sofisticados.

— Nossos clientes não vêm procurar algo para seu cachorro ou gato: vêm falando no “filho” e querem o melhor que puderem pagar — afirma Marione Pinheiro, sócia-diretora da pet shop Mundo Animal, de Porto Alegre, e presidente da recém-criada Gespet, associação que representa o varejo de produtos e serviços para animais de estimação no Estado.

O gasto médio de uma família brasileira com seu cão em pet shops é de R$ 760 por ano, segundo a consultoria Gouvêa e Souza. Os donos de gatos gastam um pouco menos:

R$ 550. A cada ida a lojas especializadas, o brasileiro gasta cerca de R$ 68. Com o mercado efervescente, o número de pet shops já ultrapassa 40 mil.

— Muitos dos gastos são com banho e tosa, mas já se nota um crescimento na procura por acessórios, recreação e hospedagem — diz José Edson Galvão de França, presidente da Abinpet.

Os clientes mais inclinados a comprar novidades são os que azeitam este mercado bilionário. A estudante de direito Isabella Ely Guerreiro, 17 anos, e a irmã Manoela Barcelo, oito anos, divertem-se escolhendo bolsas acolchoadas para levar o shitzu para passear, roupas de marca, camas e brinquedos. Quando a caminha de Pit-boo começa a desbotar, logo a substituem por uma nova em folha. Por mês, gastam cerca de R$ 500 na pet shop — os pais pagam sem reclamar.

Mercado ganha ares de sofisticação

À medida que os donos se dispõem a gastar mais com produtos e serviços sofisticados para seus animais de estimação, as empresas se adaptam rapidamente. No ano passado, a pet shop Bicho Mania mudou sua sede na Capital para ampliar a capacidade de atendimento e oferecer hospedagens mais confortáveis.

Com capacidade para 18 animais, o hotel ganhou espaços climatizados e separados por material transparente, sem grades. Um profissional cuida da recreação, de olho nos animais em área de convivência. No espaço de vendas da Bicho, acessórios destinados aos donos, como canecas temáticas, mouse peds com figura de cães, enfeites de mesa e até quadros com oração de São Francisco, padroeiro dos animais, viraram mania entre os clientes.

— Vendemos muito esses produtos. A estampa que mais sai é a do shitzu — diz a proprietária Daniela Segalin.

Na pet shop Mundo Animal, os itens importados ganham cada vez mais espaços. Estão à venda coleiras ornamentadas com pedras de cristais e douradas, cadeirinha para automóveis, fontes de água corrente para gatos matarem a sede e arranhadeiras de palha com mais de dois metros de altura. Recentemente, a pet recebeu um lote de coleiras da marca Louis Vuitton, praticamente esgotadas.

A indústria nacional também passou a oferecer itens de primeira linha. A Emporiopet ganhou clientes em todos os Estados ao apostar em xampus, condicionadores e perfumes feitos à base de óleos naturais trazidos da Amazônia. Uma das linhas com maior saída é à base do linho, rico em vitaminas benéficas ao pelo, explica a coordenadora administrativa Marcele Barbo Dutra. No ano passado, a empresa produziu 400 toneladas.

Tecnologia, por sinal, tem pautado o mercado pet. A última moda no setor é o implante de chips. Comuns nos EUA, os dispositivos permitem ao dono saber do paradeiro do bicho e acompanhar o calendário de vacinação por um software. Sandra Araújo comprou a gata Sophia já com o chip.

— Dá mais tranquilidade para não perder informações importantes — explica Sandra.

Cães têm até hotel-fazenda

Hana, uma bulldog de quase 30 quilos, observa a agilidade de Choco, uma australian cattle de um ano, sobre um tapete por onde corre sem jamais sair do lugar. Sabe que logo será sua vez de subir na esteira e dificilmente vai flutuar como a cadelinha com pinta de atleta.

E nem adianta rosnar: afinal, este é um lugar para onde os cães vão para perder peso e recuperar a agilidade. Mas há um consolo: depois de trotar por 20 minutos, Hana vai para uma piscina de água morna refrescar-se no colo do adestrador.

Cenas como essas são curiosas, mas fazem parte da rotina de Angélica Pires e Sérgio Paim. Há quatro meses, eles inauguraram, em Viamão, a Dog”s Village, hotel-fazenda para cachorros com proposta de aliar atividade física e hospedagem.

O investimento de R$ 1,5 milhão deverá ser recuperado em menos de cinco anos, já que o negócio vai bem: as 30 vagas lotam com facilidade.

O conceito de hospedagem com recreação tem motivado a abertura de negócios na Região Metropolitana, especialmente em áreas rurais. Alguns deles chegam a receber uma centena de animais. É o caso do Vet Hotel, em Viamão. No verão, quando famílias procuram lugar para deixar seu animal enquanto curtem as férias, a hospedagem chega a receber mais de cem cães. No local, há oito câmeras na área de convivência.

— Quando bater a saudade, os donos acessam o monitoramento pela internet — explica o proprietário Alexandre Stigger Terra Lima.

Saúde não fica para trás

Poucas semanas após serem presenteados com a boxer Nina, os namorados Filipe Narciso e Marcela Sosa tiveram de procurar às pressas ajuda veterinária. A cadela teve crise de diarreia, problemas de pele e não comia mais.

Em um hospital para animais, encontraram uma estrutura que jamais imaginaram existir: UTI com leitos individuais, todos com soro e marcador de batimentos cardíacos, equipamentos avançados de ecografia e raio X e veterinários especializados em áreas como endocrinologia e dermatologia.

— Fiquei feliz em saber que poderia contar com lugar tão especializado e aberto 24 horas — diz Marcela.

O valor do tratamento, estimado em mais de R$ 2 mil, valeu a pena, diz Felipe. Nina, hoje com quatro meses, se recuperou do problema sofrido em consequência de vacina inadequada dada pelo antigo dono.

Os cuidados com a saúde dos animais se sofisticam a cada dia. Inaugurado no fim de 2011, o hospital da Mundo Animal tem condições de manter internados e monitorados até 40 animais. Pelos seis consultórios, três áreas de internação e dois blocos cirúrgicos circulam 40 especialistas.

— Quisemos montar um hospital de alto padrão de higiene e sofisticação — conta a dona, Marione Pinheiro.

A clínica e pet shop Bichos da Gente, também na Capital, oferece banhos terapêuticos para animais com problema de pele. Um dos mais populares é a vinoterapia, com xampu à base de uva, explica a proprietária Ana Paula Azevedo. E cães com dores musculares são encaminhados à acupuntura.

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