Sensação de insegurança
Pesquisa realizada pelo Instituto Index em 30 municípios mostra aumento na percepção de insegurança dos gaúchos
Pesquisa realizada pelo Instituto Index em 30 municípios mostra aumento na percepção de insegurança dos gaúchos. A sensação de insegurança no Estado ganhou status de endemia. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Index, que ouviu 2 mil pessoas em 30 cidades, 73% dos entrevistados disseram acreditar que a violência recrudesceu nos últimos 12 meses e 69% afirmaram já ter sido alvo de bandidos.
O estudo foi feito nos dias 11 e 12 de fevereiro, na mesma semana em que a Secretaria da Segurança Pública divulgou índices de criminalidade. As estatísticas revelaram incremento de 70% nos homicídios em 10 anos e número recorde de carros roubados. Ao todo, 84% dos entrevistados reconheceram sentir medo de caminhar em vias públicas à noite e 63,6% admitiram o receio — há alguns anos improvável — de circular nas ruas à luz do dia. Os resultados pioraram em relação à investigação feita pelo instituto em fevereiro de 2015. Apesar de preocupante, o cenário retratado não chega a surpreender especialistas.
— O agravamento da situação vêm sendo observado em diferentes pesquisas nos últimos dois ou três anos. Os resultados denotam que a percepção de insegurança atingiu um patamar endêmico. Não é mais pontual. E generalizada. Chegou inclusive aos municípios do interior — destaca Eduardo Pazinato, coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma).
Pessimistas
Talvez por esse motivo, quando perguntados se acreditavam que a violência irá aumentar, ficar igual ou diminuir nos próximos 12 meses, 72% escolheram a altemativa mais pessimista. Enquete realizada pela Fadisma em Novo Hamburgo, no fim de 2015, mostrou que 86% pressentiram
o mesmo destino.
Na avaliação da socióloga Aline Kerber, especialista em Segurança Pública e Cidadania, há um sentimento geral de descrença e ceticismo, fruto de um conjunto de fatores — desde a elevação de indicadores criminais até a maior visibilidade do tema na imprensa. — Nem sempre a sensação de insegurança está associada à real vitimização. Sentir medo não quer dizer, necessariamente, que a pessoa já foi vítima de um crime. Ainda assim,
o fato de haver uma impressão tão negativa merece atenção redobrada das autoridades — diz Aline.
Para Caco Arais, diretor do Index, o temor detectado está diretamente relacionado ao alto percentual de pessoas que afirmaram ter sido atacadas. Para ele, não se trata apenas de "sensação". — O que era sensação passou a ser insegurança de fato. A violência está cada vez mais perto de todos.
Governo não quer falar
A assessoria de comunicação da Secretaria Estadual da Segurança Pública informou que o órgão não comentaria os resultados, porque -tem como padrão não se manifestar acerca de dados estatísticos, pesquisas ou estudos não oficiais".
Violência impõe mudança de horários
A pesquisa também revela que a escalada da violência está fazendo com que a população mude de hábitos. Ao todo,
36% dos entrevistados disseram evitar andar com dinheiro, 24% afirmaram ter deixado de sair à noite e
12% redobraram os cuidados ao sair da residência. Também houve menções à instalação de grades, à compra de armas e à contratação de seguros.
— Isso reflete o descrédito no Estado. As pessoas não estão vendo luz no fim do túnel e estão buscando suas próprias saídas — diz o diretor do Index.
Em toda parte
Involuntariamente, as saídas encontradas pela população diante do medo, segundo o especialista Eduardo Pazinato, acabam contribuindo para retroalimentar o problema. Quando desistem de ocupar os espaços públicos, as pessoas abrem caminho para que a criminalidade se apodere desses locais, estendendo os tentáculos do crime. Ao evitar sair de casa à noite, deixam de consumir e o Estado arrecada menos impostos. Dinheiro que, teoricamente, deveria ser aplicado em áreas essenciais como a segurança pública.
Fonte: Diário Gaúcho