TV desconectada

A venda de televisores com acesso à internet cresce, mas a falta de aplicativos e a desinformação fazem com que o consumidor fique perdido diante da tecnologia.

O microempresário paulistano José Ricardo Miranda, 42 anos, decidiu comprar uma televisão nova há alguns meses. Fã de filmes, seu desejo era adquirir um aparelho que tivesse qualidade de imagem de última geração, tela grande e que ficasse bem na sala de casa. Assim, foi à internet pesquisar modelos avançados e de design bonito, mas que tivessem um bom preço. Comprou então numa loja virtual um televisor de 42 polegadas e equipado com as tecnologias LED e Full HD, que proporcionam uma imagem de altíssima resolução. Além desses atributos, o equipamento continha outro que, embora represente o que há de mais moderno em tevê, não interferiu em sua decisão de compra: acesso à internet.

O produto é uma smart TV, ou televisão conectada, como são chamados os aparelhos que permitem baixar aplicativos e navegar na rede, por exemplo. No seu caso, a tevê continua desconectada.“Nunca me conectei nem para ver como é”, diz Miranda. “Comprei o aparelho pela qualidade da imagem e pelo tamanho da tela.” Miranda não é uma exceção entre os consumidores brasileiros, e por isso os fabricantes se veem diante de uma situação curiosa: as vendas das smart TVs crescem, mas não pelo motivo esperado, o que impede a geração de novas receitas que poderiam ser obtidas com aplicativos ou tráfego de dados.

Levantamento da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) mostra que, dos 15 milhões de televisores que devem ser comercializados em 2012 no País, 40% terão conexão à web. É o dobro do registrado em 2011. Mas, assim como Miranda, a maioria usa o aparelho só para ver as atrações das emissoras abertas ou fechadas. Segundo os fabricantes, de cada dez consumidores, entre seis e oito não usam os recursos interativos do televisor. O desinteresse por essa inovação pode ser creditado a todos os envolvidos na cadeia de negócios. Se é verdade que os varejistas ainda não conhecem totalmente os recursos, as marcas de eletrônicos, por sua vez, não esclareceram ao vendedor e ao cliente o potencial da tevê conectada.

Isso se explicaria, de acordo com Ana Maria Nubie, vice-presidente de atendimento da agência Click Isobar, pelo fato de essas companhias nunca terem precisado “educar” seus clientes, pois comercializam um item incorporado à cultura nacional. “A indústria da computação, por exemplo, há anos educa o consumidor”, diz Ana Maria. “Com a nova realidade, a indústria de televisão terá de reaprender a vender o seu produto ”, afirma. Outro obstáculo nesse processo é o desenvolvimento de conteúdo. Como se trata de um tipo de produto novo, os desenvolvedores ainda buscam entender como aproveitar todas as suas possibilidades de criação para essa nova tecnologia.

“Faltam boas ideias e bons aplicativos”, afirma Salustiano Fagundes, CEO da HXD Interactive Television, empresa nacional de desenvolvimento de conteúdo para tevês conectadas. A criação também esbarra nas dificuldades tecnológicas e financeiras. Como as fabricantes contam com sistemas operacionais diferentes, o desenvolvedor deve projetar softwares distintos para cada marca de aparelho. A consequência disso é que, com as adaptações necessárias para um aplicativo ser executável em todas as plataformas, o investimento pode triplicar. Só como comparação, o preço padrão para criar um aplicativo comum é de R$ 100 mil, segundo Claudia Woods, CEO da NetMovies, locadora virtual brasileira.

“Se levarmos em consideração as principais marcas de tevês e a complexidade do trabalho, o custo sobe para uns R$ 300 mil”, diz. Uma das maneiras de superar dificuldades como essas seria a existência de um sistema único para preparação de aplicativos. Foi justamente essa constatação que levou ao surgimento da Smart TV Alliance. Trata-se de uma plataforma que permite ao profissional fazer um aplicativo que seja compatível com diversas marcas, entre elas Philips, Toshiba e LG. “A intenção é dar aos desenvolvedores um kit que o ajude a criar seu aplicativo”, afirma holandês Albert Mombarg, fundador da Smart TV Alliance.

O programador pode usar o sistema gratuitamente. Independentemente de como se desenvolvam os softwares, o importante para a indústria, agora, é popularizar a TV conectada. “O desafio é mostrar que nosso conteúdo é relevante”, afirma Marcelo Varon, coordenador de negócios da Sony. Se a criação de aplicativos ainda tem um longo caminho a percorrer, a área de publicidade traz desafios e oportunidades. Um dos motivos pelos quais as fabricantes buscam popularizar esses televisores é que, assim, podem obter receita extra.

“O brasileiro consome muito vídeo online, o que é uma pré-disposição ao uso da smart TV” afirma Marcelo Coutinho, diretor de inteligência de mercado do Terra. Dessa maneira, surgiriam novas possibilidades de venda publicitária. Dentro da plataforma online da tevê, por exemplo, a empresa poderia veicular propaganda. Por enquanto, isso ainda está mais no plano das ideias. Mas, no que depender das previsões do mercado, as bases para o desenvolvimento de novos negócios estão se consolidando. “Em 2013, a tendência é de que os consumidores troquem seus modelos de tela fina por tevês conectadas”, diz Coutinho. “Isso vai fortalecer o mercado.”

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