Uma classe média que deseja mais
A classe média na Região Sul é maior, em proporção, do que nas outras áreas do Brasil. Além disso, o perfil de seus integrantes é diferente. Estudo realizado pelo instituto Data Popular mostra que essa…
A classe média na Região Sul é maior, em proporção, do que nas outras áreas do Brasil. Além disso, o perfil de seus integrantes é diferente. Estudo realizado pelo instituto Data Popular mostra que essa parcela da população, que abrange 15 milhões de habitantes na Região Sul, costuma ler mais jornal e tem maior grau de instrução do que o restante do país. E nesse reinado da classe média, dois municípios gaúchos estão entre os cinco que têm maior participação dessa faixa da renda: Picada Café e Dois Irmãos.
Com a maior concentração percentual de famílias na nova classe média brasileira, a Região Sul revela um perfil diferenciado do restante do país. Com índices mais elevados de escolarização, essa parcela da população pode ser vista com um grau acima da classificação geral: uma espécie de classe A da C. – No Sul, temos um perfil bem diferente dos integrantes da classe C. São pessoas que leem mais jornal, têm maior grau de instrução e, por isso, apresentam comportamentos distintos – aponta Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, instituto que realizou o estudo com base em informações da mais recente Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio, do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o estudo, 55,3% da população da Região Sul se enquadra na classe C, com 15 milhões de habitantes. Entre os cinco municípios brasileiros com maior percentual de famílias com renda entre R$ 1,5 mil e R$ 5 mil – faixa que classifica essa categoria da pirâmide social –, dois são gaúchos e dois catarinenses: Picada Café e Dois Irmãos e Treviso e Schroeder, respectivamente (confira quadros no alto das páginas).
Entre as capitais, duas estão entre as três primeiras colocadas: Florianópolis, no topo do ranking, com 48,5% da população na classe C, e Porto Alegre, com 47,8%. Meirelles ressalta que Florianópolis eleva a renda da classe média especialmente pelo setor de serviços (hotéis e restaurantes), enquanto Porto Alegre é beneficiada pela criação de vagas com carteira de trabalho no comércio e na indústria.
Educação financeira para comprar carro
Foi por conta do incentivo dado pela prefeitura de Picada Café à educação que o agricultor Sinésio Klauck, 21 anos, chega agora ao sétimo semestre do curso de Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural, um braço da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no município. Sinésio conta que o conhecimento começou a lhe abrir portas. No curso, descobriu um programa de financiamento com o qual conseguiu adquirir seu primeiro carro, uma Saveiro zero-quilômetro – o carro novo é a futura compra mais desejada na Região Sul, enquanto no restante do país é o computador.
Até os 10 anos de idade, todas as crianças do município têm escola em turno integral garantido. Os que se interessarem por um curso universitário ou técnico têm R$ 66 mensais de ajuda de custo, além de 50% do transporte pago pela prefeitura. Com a despesa assumida pelo município, sobra mais dinheiro para o consumo das famílias.
Os sonhos também se ampliam. O industriário Rogério Kiewel, 39 anos, de Picada Café, acaba de comprar seu primeiro carro. Está terminando de construir a casa própria e planeja levar a família para passar férias no Nordeste de avião no fim do ano.
O veículo de Kiewel é um Gol, ano 1991. A família tem renda mensal de R$ 1,6 mil e poupou todos os esforços para comprar o carro à vista. Pagou R$ 7,8 mil, mas se livrou das prestações. Com sorriso largo, o industriário não esconde a satisfação. – As coisas estão melhorando por aqui. Trabalhamos e poupamos muito, mas estamos conseguindo adquirir as nossas coisas – comenta Kiewel.
Conforme o sociólogo Guilherme Xavier Sobrinho, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), a redistribuição na pirâmide social foi impulsionada por dois processos: políticas de transferência de renda e crescimento da economia.
O primeiro aspecto está ligado aos programas sociais, como Bolsa-Família, e o segundo, à geração de emprego e ao aumento de renda – que alcançaram patamares históricos no ano passado.