Voluntários da Pátria: rua de todas as etnias

Comerciantes nascidos em outros continentes são proprietários de lojas numa das mais movimentadas do Centro da Capital

Imigrantes e descendentes de comerciantes nascidos na Ásia, África, Europa e na América são proprietários de lojas de tecidos, confecções, bijuterias, calçados, óticas e relojoarias na Rua Voluntários da Pátria, uma das mais movimentadas do Centro da Capital. Herdeiros de uma tradição familiar voltada para o ramo de negócios, chineses, italianos, sírios, palestinos, egípcios e bolivianos geram emprego e renda para centenas de gaúchos. Veja quem é quem nesse mapa mundi econômico e cultural.

Ótica Severini

O pai Giacomino deixou a região da Calábria, na Itália, em 1949. Cruzou o Oceano Atlântico de navio, desembarcou no porto de Santos e veio descendo até chegar a Porto Alegre, na década de 50. Na Voluntários, abriu primeiro uma tabacaria onde eram vendidos café, bilhete de loteria, cigarros, charutos. Hoje, o filho Giácomo Severino Neto, 54 anos, gerencia uma loja de venda e conserto de óculos e relógios.

– Estamos abertos até hoje porque o prédio é nosso – afirmou Giácomo.

Jony Calçados

Estabelecido na Voluntários há 34 anos, o descendente de italianos Antonio Sanzi, 62 anos, é um entusiasta do comércio na tradicional via. Conta que a clientela é fiel e costuma encher a loja em busca de calçados atraída por dois itens fundamentais:

– Preço baixo e bom atendimento.

Toni, como é conhecido, é membro do Sindilojas de Porto Alegre. O gaúcho com sangue italiano vê semelhanças entre os dois povos e, em mais de três décadas de trabalho, só encontrou outro lugar tão acolhedor: Morano, na Itália, que visitou em 1994.

Casa Verde

Aberta em 1926, a Casa Verde tem múltipla nacionalidade. O avô, o pai e o filho Gérson Maltz, todos nascidos em Israel, já morreram. Com a morte de Gérson, o último proprietário, a mulher Viviane Helena Bestetti Maltz, 51 anos, assumiu a direção. Ela é descendente de italianos e portugueses e representa a terceira geração da família no comando do negócio.

– É muito difícil se manter no mercado competindo com grandes magazines. Por estarmos numa rua popular, que preza o preço baixo, é muito complicado trabalhar. Temos de fazer promoções – disse Viviane.

Cristal Lingerie

Há oito anos, o boliviano Jaime Marquez Calle, 72 anos, vende uma peça do guarda-roupa feminino que elas adoram comprar ou ganhar dos homens de presente: calcinhas. Na Cristal Lingerie, este sorridente senhor nascido em La Paz dá a receita para ser um comerciante de sucesso, vendendo peças que custam entre R$ 2 e R$ 5.

– Aqui, tem que saber trabalhar com a classe média, que ganha pouco.

Atacado Rio Branco

Entre os imigrantes que prosperam no comércio do Centro, Fakhri Bakri, 64 anos, é um dos pioneiros. Ele se estabeleceu aqui em 1972, seis anos depois de partir da cidade de Ramallah (Casa de Deus), no território da Autoridade Palestina. Com o início da Guerra dos Seis Dias, veio ao encontro do pai, que já vivia no Rio Grande do Sul.

As barreiras do idioma, que impediram estudos universitários, conduziram Fakhri para o comércio. E a vida provou que essa é a sua verdadeira vocação. Além do Atacado Rio Branco, em frente ao Camelódromo, ele tem duas lojas na Vigário José Inácio – Brascol e Pingo de Gente, no ramo de confecções.

– O povo brasileiro é formidável, maravilhoso, aceitou a gente de braços abertos.

Mido Modas

Localizada na esquina das ruas Voluntários da Pátria e Doutor Flores, a Mido Modas investe em dois tipos de produtos: calçados e roupas. No verão, vende as populares havaianas, com seus desenhos coloridos. No inverno, casacos. O egípcio Hisham Ezzat Gouda Mohamed, 38 anos, lembra que o começo não foi fácil.

– No primeiro, segundo e terceiro anos sofri mesmo, mas agora começa a melhorar.

Dab-Dab

A loja preferida dos alfaiates fica na esquina das ruas Voluntários da Pátria e Marechal Floriano. Inaugurada em 1925, a Dab-Dab é administrada por Elias Dab-Dab, filho de Raphael. O pai de Elias nasceu na Antióquia (cidade que hoje pertence à Turquia). Sempre alinhado, Elias recebe os clientes na entrada do estabelecimento. Voltada para o público masculino, é um dos poucos lugares na cidade onde ainda encontra-se determinados tipos de tecidos usados geralmente na confecção de ternos, saias e tailleurs.

Syham Modas

Voltada para o público feminino, a loja Syham Modas vende blusas e vestidos que em nada lembram o vestuário típico palestino. As roupas são menos ornamentadas e mais práticas para agradar a mulher que trabalha e até a dona de casa. Hussan Salama, 47 anos, palestino da região da Jordânia, está no ramo de negócio inaugurado pelo pai, Khalled, em 1971. Mesmo acostumado às oscilações desse segmento no comércio, Hussan admite que o volume de vendas este ano ficou aquém do esperado.

– Está difícil, principalmente, porque o inverno não foi tão frio – revelou.

Look”s

Uma das lojas da família Kadan, formada por palestinos oriundos da cidade de Ramallah, no Centro da Cisjordânia e ao Norte de Jerusalém, fica no meio da terceira quadra da Voluntários. Júnior Kadan, 38 anos, e Marcelo Kadan (D), 36, explicam como se mantêm gerando emprego e renda no ramo aberto por parentes há 30 anos. A Look”s vende roupas masculinas e femininas.

– A gente tenta entrar na briga. Comprar mais barato para vender mais barato. Em alguns itens a gente ganha, em outros empata ou perde. Estamos otimistas para que as vendas melhorem no Natal – disse Júnior.

Iurika

Para um chinês, ele é receptivo até demais. Mas aí está a grande qualidade de Liu Sun Hsien, 65 anos, natural de Taiwan. A cordialidade e o sorriso espontâneo fazem dele e de sua loja, a Iurika, localizada na Galeria Caminho Novo, uma referência no mercado de miudezas na região. Há 30 anos, Liu vende bijuterias, carteiras, chapéus. O casamento com a gaúcha Eliana Neutzling Caldasso Liu, 52 anos, ajudou nesse processo de mudança de comportamento do chinês, hoje mais solto e fluente.

– O comércio sempre tem altos e baixos, mas todo mundo fala que vai melhorar – acredita.

Mega Mega

Logo na entrada da loja Mega Mega, Rashad Baja, 51 anos, estendeu duas bandeiras: uma do Inter e outra do Grêmio. Ao fundo, pendurou uma enorme bandeira brasileira. São as boas vindas da família palestina ao público. É, também, uma forma de agradar a clientela primeiro, pelo coração, depois pela qualidade de seus artigos e preços acessíveis. A loja aberta na década de 70 é comandada hoje pelo filho de Rashad, Nezar Rashad Baja, 25 anos, aluno do curso de administração na Puc.

– Esse ramo é bom, mas cansa. Tem meses bons, quando a caixa não para. E outros quando a caixa começa a receber devagarzinho. Quero que meus filhos façam outra coisa na vida. Por isso, dou estudo – explicou Rashad.

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