O que empreendedores fazem para driblar as baixas temporadas

Com a temporada de verão e férias em vista, assim como muitos negócios elevam seus rendimentos, outros entram em baixa. Conheça algumas estratégias para segurar este forninho

Verão chegando é sinônimo de dinheiro para muita gente que empreende, principalmente nas regiões litorâneas. E quem fica na cidade, como mantém seus rendimentos? Resta criar estratégias para seguir firme durante estas épocas adversas.

Com menos movimento na temporada de férias, Ana Watchigall, 40 anos, proprietária do salão Antonelly Espaço & Beleza, aposta na criação de promoções conforme a sazonalidade e na constante otimização de tempo dos clientes. O estabelecimento, localizado em Porto Alegre, na rua Mariante, nº 284, bairro Rio Branco, oferece, além de serviços estéticos, boutique e cafeteria.

Ana, que trabalhava no setor financeiro de uma corporação, comprou o ponto, onde funcionava, há 20 anos, um salão em declínio. Após estudar o mercado local, a empreendedora percebeu que não era oferecido, no endereço, um serviço que ela apreciava muito na região da serra gaúcha, o de salão com cafeteria. Além de oferecer essa novidade, Ana queria diferenciar ainda mais. Assim, incluiu nos planos de reforma uma boutique.

Para a renovação do espaço, inaugurado em maio deste ano, foram investidos mais de R$ 200 mil. Isto envolveu atualização dos profissionais, reformas e construção. Embora seja o primeiro verão do salão sob sua tutela, a empresária calcula uma redução de 20% de fluxo de clientes durante a estação, e espera baixas acentuadas nas temporadas de Natal e Carnaval.

Por trabalhar com equipe de profissionais que estão há 15 anos no ramo, Ana se inteirou sobre o comportamento das demandas do salão. "Durante o verão, os serviços que envolvem química no cabelo caem, enquanto os de hidratação apresentam elevação", pontua. A demanda também aumenta para depilação e micropigmentação.
À medida que são observadas quedas em determinados serviços, a estratégia adotada por Ana é disponibilizar promoções que agreguem um serviço que está em baixa a um que está em alta. Além disso, foram criados convênios para empresas próximas ao salão. A empresária considera uma maneira de gerar valor para a marca e, assim, manter a agenda lotada.

Ana afirma que é importante, também, observar o perfil da clientela. Para a empresária, a maioria dos frequentadores de seu negócio compram pela conveniência. "Muitas vezes, os clientes vêm ao salão e compram roupas para se vestir para eventos (depois daqui) ou para presentear alguém", detalha. Hoje, a boutique conta com 300 peças – que variam de R$ 99,00 a R$ 410,00 – e uma venda média de 70 unidades mensais.

Veja as principais ferramentas e sugestões para manter sua empresa

>> Os movimentos de mercado influenciam em todo processo de planejamento da empresa, seja financeiro, de compras, de estoque. "E de pessoal, para que se possa manter o mesmo nível de serviço e atendimento aos clientes", diz. Para qualquer atividade empresarial, é fundamental ter planejamento para não ser pego de surpresa. Seja ela positiva ou negativa. É preciso ter um resguardo financeiro para baixas tanto quanto preparar-se para um aumento de fluxo.

>> Para quem está no primeiro ano de negócio, é possível monitorar o mercado através de análise dos concorrentes, ao observar em quais épocas do ano as empresas do mesmo ramo fazem promoções, por exemplo. Outra dica é ouvir os consumidores e as percepções sazonais de fornecedores.

>> Para quem não se planejou e está na cara do gol, o primeiro passo é buscar algum tipo de ação de divulgação, para promover os produtos e serviços. Sair a prospectar novos clientes, ver o melhor jeito de usar a estrutura que está ociosa, fazer eventos para trazer o cliente para perto e oferecer diferenciais conforme a estação. No entanto, "sem planejamento, qualquer medida pode ser perigosa", alerta o especialista. Dar descontos pode ser uma cilada se você não tiver as informações de custos e margem de lucro bem organizadas.

>> Na época de baixa demanda, alguns empreendimentos aproveitam para fazer férias coletivas.

>> Em meses de maior movimento, o ideal é armazenar caixa para os pagamentos e para o fluxo de períodos mais fracos.

>> Todos os setores, de alguma maneira, em alguma época do ano, são impactados. No entanto, o choque é menor para os que conseguem prever a demanda. O comportamento do consumidor varia conforme diversos aspectos, seja o clima, a época de férias e os ambientes político, social e econômico do País. "No mercado norte-americano, em momentos de crise, as pessoas saem a consumir para reaquecer a economia. No Brasil, acontece o movimento contrário: mesmo as pessoas tendo dinheiro, ficam com medo de gastar, mudam os hábitos", ilustra.

>> E, para 2018, é importante já olhar o calendário. É um ano de Copa do Mundo, eleições. Roger aconselha aos empreendedores pensar como estes grandes eventos podem influenciar positiva ou negativamente seus negócios.

Planejamento e mais planejamento

Para lidar com os meses de baixa demanda, assim como os de alta, o coordenador de projetos do Sebrae-RS, Roger Klafke, 43, afirma que a palavra de ordem é planejamento. "É preciso conhecer o mercado antes de qualquer coisa, saber em quais épocas do ano ele tem mais ou menos movimento", explica. Mesmo que o negócio esteja no início (e não haja o comparativo de anos anteriores para se basear, por exemplo), o especialista afirma que é possível, sim, tentar prever estes movimentos de mercado, junto a fornecedores, clientes e concorrentes. Estes três atores têm informações que compõem uma base sólida para se preparar para o ano. "Os fornecedores têm muito este termômetro", salienta.

Estúdio de música aposta em oficina de artes cênicas

O Estúdio Musique abriu as portas com apenas duas salas de aula, dois professores e 30 alunos que migraram da antiga escola que o professor e proprietário Willian Varela, 35, trabalhava. Pelo fato de a escola estar localizada no Centro Histórico da Capital, em uma área com muitos colégios, segundo o proprietário, logo de início, houve uma procura intensa. "Abrimos a escola em março e, no mesmo ano, já conseguimos reverter o valor de investimento", afirma Willian. Ele, no entanto, já entrou no mercado em um período em que a rotina da cidade estava normalizada, pós-Carnaval.

Agora, depois de oito anos de atuação, a escola tem cerca de 110 alunos e seis professores. E Willian aprendeu a característica que prevalece quando o termômetro sobe: durante 10 meses do ano, o ritmo é de salas cheias, poucos horários vagos. Em janeiro e fevereiro, por outro lado, o movimento da empresa cai pela metade.

"Dependo muito do calendário escolar e da função de Carnaval", conta. A maior parte do público que frequenta o Estúdio Musique é formada por crianças e adolescentes que são estudantes das escolas da redondeza. "A maioria se manda para a praia, viaja e acaba parando (de frequentar), só volta em março", explica o professor.

Para tentar driblar o período escasso, o Estúdio Musique desenvolve workshops com convidados de fora, para dar cursos de assuntos e modalidades que normalmente não são abordados. O empreendedor acredita que tem tudo a ver com o seu negócio e são temáticas importantes para a construção de um profissional da música, como lições voltadas a artes cênicas e ao palco.

"Como fechamos turmas grandes, conseguimos trabalhar com um valor de inscrição mais baixo", afirma ele.

"Exploramos bastante essa parte de trabalhar com alunos de outras escolas de artes, a parte de teatro musical, mais cênica, que, durante o ano, não conseguimos apostar como poderíamos. E, como tenho muitos alunos que vão para competição, é interessante que eles desenvolvam isso", afirma. As mensalidades variam de R$ 190,00 a R$ 200,00.
Para elevar a procura quando o próximo ano engrenar, a aposta é ir além do público do Centro. "Pretendemos trazer gente nova, abranger um raio maior da cidade, explorar outros bairros com uma campanha mais agressiva", relata Willian.

Fonte: Geração E

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