Endividamento gera alerta no mercado de consumo brasileiro

Inadimplência pode impactar as vendas do varejo e exige que o setor adote estratégias bem planejadas

Índice de endividamento nacional em julho de 2024 aponta impactos no varejo
Fonte: PEIC, CNC, Julho 2025.

O mês de julho de 2025 marcou a continuidade de uma tendência preocupante para o mercado de consumo no Brasil: o endividamento das famílias permanece elevado, atingindo 78,5% do total,  o maior patamar desde junho de 2024. Esse resultado, por si só, já sinaliza uma pressão sobre o orçamento doméstico. No entanto, o que mais chama atenção é que o aumento veio acompanhado de uma nova elevação da inadimplência, que agora atinge 30,0% das famílias, maior índice desde setembro de 2023.

Além disso, o número de famílias que não terão condições de pagar dívidas em atraso também avançou, alcançando 12,7% — ou seja, mais de uma em cada oito famílias brasileiras se encontra em situação crítica de inadimplência.

O varejo, principal canal de escoamento do consumo das famílias, é diretamente impactado por esse cenário. Quando o comprometimento de renda com dívidas atinge níveis elevados, como o atual índice médio de 29,4%, a capacidade de consumo futuro se retrai. Embora haja uma leve melhora no indicador de comprometimento excessivo (mais da metade da renda), que caiu para 18,9%, o risco para o setor permanece alto.

Outro fator relevante é a redução dos prazos de endividamento, que indica um movimento das instituições financeiras em limitar o risco. O percentual de famílias com dívidas superiores a 12 meses caiu pelo sétimo mês consecutivo. Ou seja, os prazos estão mais curtos, mas o nível de endividamento não cede. Isso reforça a fragilidade financeira do consumidor e a tendência de um consumo mais imediato, com menor fôlego no médio prazo.

Inadimplência em alta preocupa o setor varejista

Entre os tipos de dívida, o cartão de crédito segue sendo o mais utilizado pelas famílias (84,5%), mesmo com uma leve retração. Em contrapartida, os carnês de loja voltaram a ganhar espaço, alcançando 16,8% das dívidas — sendo a segunda modalidade mais comum, acima do crédito pessoal. Esse comportamento reflete a busca por alternativas de parcelamento direto com o comércio, o que pode representar uma oportunidade, mas também exige cautela por parte dos lojistas, especialmente na concessão de crédito próprio.

Do ponto de vista demográfico, a pesquisa revela um agravamento da situação entre as mulheres e as famílias com renda entre 3 e 5 salários mínimos. Esse grupo específico apresentou elevação tanto no endividamento quanto na inadimplência, com destaque para a alta de 1,6 p.p. na inadimplência anual. Isso reforça a necessidade de atenção especial a esse público, que é representativo no perfil de consumo do varejo urbano.

O tempo médio de atraso entre os inadimplentes segue elevado — mais de 64 dias — e a parcela média da renda comprometida com dívidas já supera os 29% há vários meses. Esse contexto limita as margens de manobra do consumidor e aumenta o risco de postergação de compras, especialmente as não essenciais.

Como representante do comércio varejista da capital gaúcha, o Sindilojas Porto Alegre observa com preocupação o avanço desses indicadores. Em um cenário de juros ainda altos e poder de compra pressionado, o setor deve adotar estratégias mais eficientes de fidelização, promoções bem planejadas e análise criteriosa do perfil de crédito do consumidor.

Porto Alegre, assim como o restante do Brasil, não está imune ao reflexo dessa conjuntura. E, se o endividamento ainda alimenta parte do consumo no curto prazo, sua deterioração pode afetar duramente as vendas do segundo semestre. A previsão da CNC é que o nível de endividamento recue nos próximos meses — porém, ainda fecharemos 2025 com mais famílias endividadas e inadimplentes do que no ano anterior.

Fonte: Rodrigo de Assis, Economista do Sindilojas Porto Alegre

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